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Delito de Opinião

Momentos decisivos I

Luís Naves, 26.01.15

As discussões em Portugal tendem para variantes do fim do mundo e a reacção dos analistas à vitória do Syriza na Grécia está a seguir o guião. Veremos ao longo dos próximos meses se, ao contrário da tradição, um pequeno país consegue alterar a estratégia das potências, neste caso da Alemanha, cujas intenções são sistematicamente caricaturadas pelos comentadores. Lendo certos textos, parece que os alemães enlouqueceram.

Como acontece com outros credores, a Alemanha tem sido coerente na crise das dívidas soberanas: as ajudas aos endividados estão ligadas a reformas internas que permitam resolver os problemas estruturais na origem dessas dívidas. Ou seja, um eventual novo resgate a Atenas será condicionado a reformas; pagar as contas sem mudar significa a repetição da crise daqui a cinco anos. Se a extrema-esquerda não aceitar as condições, não há dinheiro e coloca-se o cenário de bancarrota, pois o país não se financia sozinho. Aliás, isso pode não ser uma catástrofe, pois a Grécia tem balança corrente e saldo primário positivos, embora ninguém deseje fazer a experiência e tudo indique que esta hipótese seja pior do que prosseguir o actual caminho.

Ainda há muitas incógnitas na equação: os gregos não querem sair do euro, o eleitorado é volátil, o mandato do vencedor é curto para decisões drásticas e o Syriza tem contradições internas. Pelo seu lado, os países do norte não podem fazer demasiadas cedências, pois em todos eles borbulham revoltas contra os partidos tradicionais. Sobretudo, este não é o momento adequado para mudar de rumo. Na Europa, o jogo decisivo será em 2017. Ou seja, estamos apenas no prólogo do drama ou na fase eliminatória.

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