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Delito de Opinião

Moçambique: o apear das estátuas

jpt, 06.12.24

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Aquando dos estertores dos regimes autocráticos são recorrentes estes momentos de derrube popular - e, depois, de "remoção" estatal - das estátuas dos seus dignitários, sempre erigidas em tentativas de os "imortalizar" e aos regimes "perpetuar".
 
As imensas imagens que tenho recebido de Moçambique - e que me recuso a partilhar - mostram que a violência campeia. Há várias que são tétricas (agora mesmo a desgraça acontecida no hospital de Chibuto), outras preocupantes (a queima de instalações empresariais, partidárias, até estatais), a indiciarem o descambar generalizado. Outras comoventes - o chefe de polícia (de Morrumbala?) a tentar refugiar-se em casa, sendo apedrejado já no seu quintal, diante do desespero da sua mulher...
 
Urge repetir que nada legitima esta repressão policial - é uma "violência estatal" não legítima, pois, mais que não seja, é serôdia. E nada justifica a "justiça popular" (expressão revolucionária, tão do agrado das correntes ideológicas em tempos viçosas, que nunca significou mais do que revanchismo).
 
Desse feixe de situações retiro, até espantado, uma noção: são agora várias as ocorrências acontecidas na província de Gaza, desde sempre "feudo" do FRELIMO, berço até de tantos dos seus líderes históricos. Até ali, no interior rural, a população voltou costas ao seu velho partido. Será que as elites políticas e as intelectuais (estas sempre tão menos relevantes do que se julgam) ainda não perceberam isso? Que anamalala!
 
E disso o símbolo mais gritante - e para mim mais surpreendente -, felizmente pacífico, encontro-o hoje, nesta imagem (que tirei de filme). Em Pemba a população apeando a estátua do general Chipande, proclamado herói da "guerra de libertação nacional" pois dito autor do seu "primeiro tiro". E que era o quarto na sempre murmurada como estipulada "dinastia" presidencial, os 4 grandes do partido: Machel, Chissano, Guebuza, Chipande. E que, chegada a sua era, delegou - porventura devido à sua idade, pois então já septuagenário -, indicando o actual presidente Nyusi.
 
Ou seja, o derrube (que já aconteceu, pelo menos numa escola) da estátua de Nyusi é apenas a afronta a um epifenómeno, uma personagem secundária, removível, por isso ainda passível de purificação. Mas o derrube da estátua de Chipande é o arrastar pelo chão da "legitimidade histórica". É mesmo um anamalala.
 
(Anamalala é a "palavra de ordem" em voga no país, termo macua que significa - mais ou menos - "basta"/"acabou")

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