Misericórdia
Vários amigos sabem que a minha alergia ao jornal "de referência" Público me impede de o ler diariamente (vejo apenas o que me enviam sob recomendação, às vezes com vero sadismo). Agora recebi este texto de João Miguel Tavares. O colunista - insuspeito de cumplicidade com o amplexo PS - zurze em bons termos o nóvel governo por causa da atrapalhada demissão da chefia da Santa Casa de Misericórdia, entregue à antiga ministra socratista Ana Jorge. Logo de seguida, em jantar com gente que me é imensamente (para não dizer mais...) querida, também o assunto foi abordado, criticando-se "a pés juntos" (e com pitons) o malvado governo.
Pouco sei do assunto, a instituição ter-se-á metido em jogatanas no Brasil e perdido uma fortuna. Por isso o anterior governo mudou a sua direcção. Agora este quer mudar de novo. E está uma trapalhada. "Deselegante", para não dizer pior, é o que atiram aos governantes, que destrataram a actual (e inocente) chefia. O próprio João Miguel Tavares - de quem os socialistas sempre dizem pior do que Maomé disse do toucinho - se indigna.
Ora eu leio o texto e interpreto-o ao contrário. Não sou eleitor do partido do governo (nem das ficções com que está "coligado"). E já há anos escrevi que o seu actual presidente é um Jorge Silas (os sportinguistas campeões compreender-me-ão...). E até julgo que o PSD é "farinha do mesmo saco" que o PS (ainda que talvez as últimas remessas tenham menos "bicho" - ainda que tal não seja difícil, tão putrefactos estão os tipos do "Rato").
Ainda assim, ocorre-me uma ideia acerca do fundamental disto tudo. O governo contactou a chefia das Misericórdias e pediu-lhe que se demitisse. A senhora recusou-se. Acontece que a sua nomeação fora política, é um cargo de "confiança política", não adveio de qualquer concurso. Ou seja, o que é curial (moral) - independentemente de contratos vigentes - é que o cargo esteja sempre "à disposição", e muito em especial se muda o governo. E quando se pede a alguém que se demita - muito em particular uma profissional sénior de estatuto elevado -, é para evitar que seja demitida, sempre um acto ríspido. Pode ser injusto, as pessoas em causa podem sentir-se injustiçadas, os postos podem ser muito apetecíveis, as funções até exaltantes... Mas é o curial: sair quando se lhes é pedido. Até porque ninguém as obrigou a aceitar os postos. E porque não se tratam - os elevados a estes postos de "confiança política" - de desvalidos em busca do "leite para as crianças", assim passíveis de caírem nas ruas da amargura, nas filas do Banco Alimentar.
Lembro-me de há anos ter encontrado um amigo - o tipo não conta a história em público portanto não o identifico - que, já noite longa, me confidenciou o que lhe acontecera. Anos antes fora convidado para um belíssimo cargo de óbvia "confiança política" (desses exaltantes - e bem pagos -, e que ainda para mais são trampolim para um futuro aconchegado). Recusou, pois não queria estar sujeito à tal "confiança política" de gente daquela cor partidária - e daquela estirpe, o que lhe era mais importante. Insistiram. E recusou de novo, "disse-lhes que os meus avós se levantariam da tumba para me perseguirem no caso de eu trabalhar para eles...". Ri-me com o desplante do homem e brotou-me, apesar de com ele fazer alguma cerimónia, "estúpido do c....!". Ele riu-se num "pois!". E pediu mais 2 duplos (Dimple, lembro bem). No fim da noite, alvorada já, paguei eu a conta, claro! Que era robusta...
Ou seja, deixemo-nos de coisas, a septuagenária socratista é que esteve muito mal. Tal como estarão todos os outros apparatchicos que não saírem pelo seu pé! O resto são amendoins...