Miguel Sousa Tavares featuring André Ventura
Nunca tinha ouvido - com ouvidos de ouvir - o que diz André Ventura. Por isso tive curiosidade suficiente para acompanhar a entrevista de ontem que o (já) decano Miguel Sousa Tavares lhe fez na televisão. É consabido que trinta e tal anos de poda jornalística não trouxeram particular sageza a MST, mas muito mais um arrogante e opinativo blaseísmo. Digamos que ele se tornou no inverso do MEC, outro dos "Miguéis" da geração que se celebrizaram, até como focos identitários, desde os 80s.
Ontem isso foi gritante. O professor Ventura, sem particular carisma ou dons oratórios, propaga o vácuo - aquela da redução abissal dos impostos em troca da diminuição dos ordenados dos deputados e do corte nas fundações estatais e algumas outras (inditas) "gorduras do Estado", como se dizia há anos, é mesmo para "patego ver".
Mas Sousa Tavares ultrapassa-o nessa vacuidade, a qual lhe é decerto catapultada pela sobranceria, viçosa na sua estufa de total inexistência de autocrítica. Para além de erros factuais e de descuido no centramento da entrevista (estava diante de um candidato à presidência, coisa que tarde e más horas recordou ... e para logo esquecer), o jornalista lá veio com o que lhe é tópico constante, o desprezo pelas gentes das "redes sociais" - nós, o público. Pois, claro, além de para aqui andarmos ao engate, como já referiu do seu pedestal moralista, somos ignorantes e pasto de populismo. E depois, o veterano jornalista, escritor de renome, descendente de ínclita geração, confortável no seu bom berço acima desta gentinha dos tuiteres facebuques, pergunta ao candidato "gostava que a sua filha casasse com um cigano?" e "tem algum amigo preto?". Credo!, que ininteligência, que básico. Mais popularucho, mais "redessocial" não haveria ...
Finda a entrevista fiquei angustiado. Não por crer que o professor Ventura ali tinha ganho simpatias e, porventura, eleitores, agradados com aquela "genuinidade", qu'ele há gente para tudo, até para acompanharem os programas de Sousa Tavares, quanto mais para aquilo. Mas fiquei angustiado pois ocorreu-me a hipótese de a minha princesa, a minha amada filha, me aparecer um dia com um namorado jornalista. Sim, eu tenho amigos jornalistas. Mas mesmo assim que horror! Gente a la Sousa Tavares nos jantares de Natal, quando eles voltarem a acontecer? Ateu que sou, invoco o nome de Deus, que me salve de tal praga ...