memória sff
É preciso ter memória. É preciso? Bom, é inconveniente, mas crucial. A maioria das pessoas não aprecia. Há quem tenha, quem não tenha. Vivo rodeada de gente que têm pouca memória. Pessoas mais próximas ou mais distantes, tantas vezes com discursos moralistas cheios de fundamentalismo e outros preceitos menos simpáticos, apenas por não se recordarem do que disseram, fizeram, viveram, decidiram, vociferaram, prometeram e por aí fora. Eu cultivo a memória para saber em que chão piso. Para não me iludir. Para viver melhor comigo e com as lições que me acontecem com a vida. Não preciso de me enganar. Sei que o que disse aos vinte anos é distinto do que disse aos trinta; sei que o que disse ontem é, porventura, distinto do que possa dizer hoje (pelo menos em certas matérias, creio que a relutância em ouvir argumentos e contra-argumentos não é benéfica, logo sou a favor da mudança de opinião, se esta é feita de forma inteligente e construtiva). Ser coerente uma vida inteira, só para dizer que se é coerente, é o maior acto de desinteligência que conheço. Ao contrário do que alguns possam pensar, tenho demasiado respeito por mim - aprendi a ter - para não saber onde estive, onde estou. O facto de ter estes parâmetros bem definidos na minha cabeça faz com que vá tendo alguns dissabores. Tive um enorme desgosto há dois anos e pouco, tive um em Fevereiro de 2014; em 2015 não tenciono sofrer mais desilusões. Procuro encarar as pessoas como encaro os factos da vida: aceito o que posso, rejeito o que consigo. Quero o que me faz bem e não me mente. Quero o melhor para as pessoas que amo. Não pactuo com equívocos, não faço as pazes com alguém por ser conveniente, por ser politicamente correcto. Mantenho as minhas inimizades com a mesma força com que mantenho as minhas amizades. As mais recentes incompreensões fazem-me acreditar que o sistema das gavetas é essencial: estes vão para aqui, aqueles vão para ali. As pessoas - e as coisas - têm a importância que lhes damos. Mais nada. A importância também está na memória.