Mas é preciso um parecer?
A gente sabe que no afã das distribuição de prebendas e das privatizações em cima do joelho, só para cumprir calendários em fim de ciclo e contentar os amigos, há muita coisa que passa despercebida. E também sabemos, por exemplo, que em casos como o da RTP a aquisição dos direitos para a transmissão dos jogos da Liga dos Campeões foi apenas um pretexto para correr com Alberto da Ponte, pois esses mesmo jogos, entretanto, já foram apresentados como um trunfo à beira das eleições. É claro que com o futebol ninguém se chateia, mas a situação deste cavalheiro que o ex-ministro Relvas promoveu inicialmente para um instituto público ultrapassa os limites do decoro, e revela o opróbrio em que medra a reforma do Estado que a coligação PSD/CDS-PP prometeu aos portugueses quando estes correram com José Sócrates.
O problema não é a competência do presidente da PT Portugal ou a legalidade da situação, mesmo que uma "entidade externa", como muitas outras que o governo de Passos Coelho contratou por ajuste directo para não perder tempo, venha dizer que é legal.
Qualquer pessoa decente facilmente compreende que o problema é de moralidade, de ética, de coerência com aquilo que se apregoou e com a agenda que se impôs aos portugueses à revelia do seu contrato eleitoral.
Porque só num Estado doente, em fase terminal de desmantelamento, corroído pelo clientelismo, sem gente às direitas, e com primeiros-ministros e políticos sem estatuto, dependentes desse mesmo Estado, dos partidos e dos empresários que vivem à sombra de ambos, é que se fica à espera de pareceres (pagos com o dinheiro que se desviou da sua segurança social, educação e saúde) para se acabar com o deboche.