Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Mário Soares (1924-2017)

Luís Menezes Leitão, 07.01.17

É quase impossível exprimir o sentimento de perda perante o desaparecimento de Mário Soares, o verdadeiro fundador do regime democrático, que a ele deve praticamente tudo. Na verdade Mário Soares foi simultaneamente a maior figura da oposição ao regime anterior, o político combativo que enfrentou na rua a deriva totalitária durante a revolução, o homem que construiu a nossa constituição e depois aceitou revê-la num sentido mais liberalizante, e finalmente o homem que comandou a integração de Portugal na Europa. Três vezes primeiro-ministro, duas vezes presidente da república, Mário Soares é seguramente a maior figura política do actual regime constitucional.

 

Nesta hora em que nos deixa, acho que a melhor forma de o recordar é evocando as palavras de André Malraux em 1946 sobre outro grande estadista, o General de Gaulle, cuja manifestação nos Champs Elysées contra o Maio de 1968, aliás inspiraria Soares no comício da Fonte Luminosa: "Conheci um número relativamente elevado de homens de Estado, mas nenhum — e de longe — que tivesse a sua grandeza. Para compreender a sua acção é preciso não esquecer que ele é um homem de destino e que sabe que o é. O homem de um grande destino, talvez trágico, de qualquer forma dramático… Fazem-me rir todos aqueles grotescos que lhe pedem contas. Não o seguimos para sermos pagos. Ele não deve nada a ninguém". É o país em geral que tem uma dívida enorme a Mário Soares e que, neste momento em que nos deixa, deveria reconhecer adequadamente.

1 comentário

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.