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Delito de Opinião

Maravilhas

Maria Dulce Fernandes, 26.09.23

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“Sabes Avó, queria fazer-te uma pergunta.” Quando a minha neta Alice entabula conversa cautelosa, fico logo preparada para o que der e vier. “Sabes que podes perguntar o que quiseres.” Doeu-te muito furar as orelhas?” Olha, não sei! É capaz. ”Como não sabes? Ou doeu, ou não doeu!” Tanto quanto sei, neta, por volta dos meus três meses, decidiram que chegara a altura de me furar as orelhas. Usava-se uma agulha já com linha, e meia batata pequena. Acendia-se uma vela para desinfectar a agulha, e assim que a ponteira estivesse ao rubro, espetava-se no lobo da orelha até enterrar na batata colocada por detrás. Puxando a batata, esta trazia a agulha e a linha por arrasto, deixando no local o buraco feito pela agulha, mas preenchido pela linha, na qual se dava um nó para não sair e não deixar fechar o buraco. Ficava assim como uma argola de linha. Sabendo agora tu tudo isto, pensas que me doeu? "Penso sim! E que choraste bastante também.” Também penso que sim. “Mas, avó, agora ainda se usa isso, essa técnica da batata?” Nada disso, neta! Agora há uma maquineta que parece um agrafador que fura e coloca o brinco que se escolheu em segundos e tudo ao mesmo tempo. “Mas dói?” Deve doer um bocadinho, afinal tem sempre de se fazer um buraquinho, mas eles põem um gel para deixar dormente e é tudo muito rápido. "Vou pensar nisso. Gostava de usar brincos, avó."

No dia D, enviou um vídeo em que estoicamente deixa furar os lobos, apenas com um apontamento de doloroso gemido. “Estás contente?” "Estou muito feliz. Gosto tanto! A minha vida é maravilhosa." Abençoados oito anos…

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