Maradona, o maior de sempre - porque eu o digo
O Pedro deixou aqui há dias um post sobre notícias acerca da morte de Maradona. Noto que o Pedro parece não gostar de ver Maradona a ser considerado o melhor futebolista de todos os tempos. É direito seu, como é óbvio. Não há uma forma de definir quem o possa ter sido e até surgir alguém que marque 1.000 golos, vença 4 campeonatos do mundo, 10 bolas de ouro e 15 ligas dos campeões, não creio que a discussão alguma vez termine. Mas deixo umas notas.
Antes de mais o óbvio que referi acima e reitero: o L'Équipe, tal como o Pedro, pode considerar quem quiser o melhor de todos os tempos. E colocar tal afirmação na capa. Chatearmo-nos com isso é inútil.
Em resposta ao Pedro, seria fácil dizer que Maradona teve um Campeonato do Mundo com uma equipa mediana e foi finalista com uma equipa medíocre numa altura em que era essa a principal competição futebolística do mundo (a Liga dos Campeões vinha ainda a uns anos).
Lembremos também que Maradona (como Pelé, Di Stefano, Beckenbauer e muitos outros), viveu num período pré-Bosman. O acordão Bosman veio não só abrir as portas às equipas europeias para terem múltiplos jogadores estrangeiros como, num período de boom económico, permitiu a criação das super-equipas que vemos hoje. Maradona teve no Nápoles Careca e Alemão como principais colegas. Messi teve o luxo de ter mais de metade da equipa espanhola campeã do mundo e Ronaldo também não andou a sofrer. Até Mbappé (potencialmente o próximo dominador) tem direito a luxo à sua volta. São períodos bem diferentes.
Há ainda as regras do jogo. Algumas "cacetadas" que dariam hoje vermelho directo não seriam mais que faltas nos anos 80. Algumas vezes nem isso. Ver Maradona (ou Futre, ou Stojkovic ou outros mestres do drible desses tempos) é vê-los a fintar com bola e com pernas, fazendo a bola fugir e depois mantendo o equilíbrio perante a perna adversária ou evitando-a. Não haveria a possibilidade das cavalgadas dos génios de hoje.
Maradona conseguiu ser campeão de Itália numa altura em que a competição era mais cerrada que a Liga dos Campeões de hoje (ou talvez igualmente difícil). Teve como adversários a Juventus, o Milan (Sachi, Gullit, van Basten), a Sampdoria, o Inter, o Hellas Verona (tinham na altura Elkjaer e Briegel) e outros tantos. Não era coisa pouca.
Mas sejamos sinceros: Maradona teve outromais que um Ronaldo não tem. Magia. Uma magia que não se viu antes e não se viu depois. Havia coisas que Maradona fazia com uma bola nos pés que não fazia sentido sequer imaginar. Maradona imaginava, visualizava e executava. Além disso era uma personalidade cativante que falava para (pelas?) massas mais desprezadas. Até a sua ligação à mafia napolitana era assente nesse apelo popular dele. Fazer a pergunta sobre "o que tinha ele que Ronaldo não tinha" não faz sentido nem em termos futebolísticos nem em termos pessoais. Era óbvio aquilo que um e outro tinham (tem) ou não. Mas aquilo que Ronaldo não tem e nunca terá é uma paixão sem limites. Não é crítica a Ronaldo, porque tal paixão é prejudicial. Mas é sem a menor dúvida a razão para o fascínio que a figura de Maradona exerce.
Quanto ao fascínio futebolístico. Bom, quem não o compreender tem muitos desportos com que se entreter. Crochet, por exemplo.