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Delito de Opinião

Macau: passado e presente (1)

Pedro Correia, 19.12.19

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Nessa época, ouvia os mais antigos expressar negros augúrios. Que toda a tradição portuguesa se eclipsaria. Que os direitos humanos seriam estrangulados. Que bastariam os primeiros anos para a face da cidade se descaracterizar irremediavelmente. Que o melhor era transferir bens e haveres para a longínqua Lisboa. Que a presença militar de Pequim assombraria o quotidiano da doce Macau poupada a todas as guerras e a quase todas as intempéries. Felizmente esses prognósticos não se confirmaram. Vinte anos depois da transferência do exercício da soberania para a República Popular da China, ei-la mais pujante que nunca, em franco crescimento, mantendo a sua vocação ancestral de cruzamento de etnias, crenças e culturas. Um oásis num mundo que vive sufocado pela crise financeira e assombrado pelo espectro do desemprego, praga que atormenta as vidas de milhões de pessoas nas rotas de todos os continentes.

Naturalmente, todos ambicionamos sempre mais e melhor. Mas, vista à distância por alguém que viveu uma década em Macau, a efeméride que agora se assinala só pode ter um carácter festivo. Por constituir um exemplo de harmonia com raros antecedentes nas encruzilhadas da História. Macau passou a ser, de pleno direito como já era de facto, parte integrante da China sem perder as características de cosmopolitismo que lhe deram um carácter único nem os seus traços identitários muito próprios, nos quais a influência europeia, através de Portugal, é inapagável.

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