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Delito de Opinião

Ma Man Kei

Sérgio de Almeida Correia, 29.05.14

Nasceu em Nanhai, nas proximidades de Foshan, provincía de Guangdong, em 1919. Nessa altura viviam-se tempos conturbados na China. Dois anos antes tinha Sun Yat-Sen instalado o governo militar de Cantão. Seu pai fora mercador, um dos muitos que se revoltara contra o governo corrupto dos Qing. Após a morte do pai, em 1934, ficou a tomar conta dos seus negócios, mas quando em 1938 as tropas imperiais japonesas tomaram Cantão, fugiu para Hong Kong. Três anos depois instalou-se em Macau, aproveitando o estatuto de neutralidade deste antigo território português. A partir de então desenvolveu múltiplas actividades empresariais e políticas, tendo enriquecido e granjeado prestígio e influência. Em Macau, mas também na China, da qual, após a revolução, se tornaria no representante local dos seus interesses. Esteve  envolvido durante mais de meio século em todos os acontecimentos importantes de Macau, tornando-se, juntamente com Ho Yin, num dos líderes da comunidade chinesa. Em 1950 foi escolhido para presidente da Associação Comercial de Macau, em cuja sede, ainda antes do 25 de Abril de 1974, se vendiam abertamente e sem que a PIDE pudesse fazer alguma coisa os exemplares do Livro Vermelho do Presidente Mao. Na crise de 1952 integrou a delegação enviada pelo governador Almirante Marques Esparteiro para negociar com os representantes do Exército Popular de Libertação o restabelecimento do fornecimento de víveres à então colónia portuguesa. Teve  papel crucial na crise do "Um, Dois, Três" e após 1974 viria a tornar-se deputado da Assembleia Legislativa de Macau, órgão para o qual foi eleito em sucessivas legislaturas por sufrágio indirecto, em representação dos interesses económicos. Abandonou a Assembleia Legislativa na última legislatura. Nesse percurso foi ainda vice-presidente da Comissão de Redacção da Lei Básica da RAEM, vice-presidente da 8ª, 9ª, 10ª e 11ª Conferência Política Consultiva do Povo Chinês, da qual fez parte até agora, e foi nessa qualidade que integrou o Presidium do Congresso Nacional Popular do Partido Comunista Chinês. Amigo de Portugal e dos portugueses, reconhecido pela China como um "capitalista patriota", já depois de doente e internado no Hospital Militar de Pequim viu a sua influência uma vez mais confirmada com a visita que recebeu, em 2007, de Hu Jintao. Faleceu na madrugada de segunda-feira, com 95 anos, e as suas exéquias terão lugar no próximo domingo em Macau. Deixou sete filhos, um dos quais é o actual presidente da Associação Comercial de Macau, duas filhas e um império comercial. Um dos seus netos é actualmente deputado na Assembleia Legislativa de Macau.

 

(notas coligidas com o auxílio do Hoje Macau, do Ponto Final e do Macau Daily Times)