Loures
308 câmaras, 3000 e tal freguesias. É normal e competente que o presidente de um partido não critique ou se demarque do que algum dos seus candidatos diz. O que tenderia a tornar-se num verdadeiro jarro de Pandora, tamanha a possibilidade real de haver candidatos pitorescos (e/ou suas retóricas) ou, pelo menos, algo desajustados do rumo central. Mas há câmaras mais iguais do que outras. E pitorescos nada pitorescos. Uma sondagem anunciou que em Loures há uma maioria, apoiante de todos os partidos, concordante com as afirmações que o futeboleiro Ventura largou sobre a "ciganada" (não sei se também sobre a castração química ou a pena de morte, pois estes temas foram sendo deixados para trás). Talvez sim, e talvez isso não seja apenas o efeito do "anunciado na TV", como antes eram publicitados os produtos mais pimba. E sim, os políticos, locais ou nacionais, devem dar voz às perspectivas da população, aos seus diversos sectores e interesses. E se há uma particular tensão social no município, se há grupos mais atreitos a tornearem os enquadramentos legais, actue-se, identifiquem-se as questões e proceda-se para resolver os problemas (e não, não é à chibatada).
Mas é óbvio que não é disso que se trata. Nem temos vindo a receber novas de que Loures seja um caso patológico. Nem a argumentação de Ventura assenta num conhecimento sociológico da realidade municipal. É apenas um tonitruante e inintelectual "diz que", um verdadeiro "boçalismo a microfone aberto". E que tendo algum sucesso eleitoral tenderá a alastrar-se (ou sedimentar-se), nas mentes habitantes das 300 e tais câmaras e 3000 freguesias. E dos seus políticos, nem que seja como estratégia de cabotagem. Por tudo isto, ao dinamizar e, acima de tudo, ao ombrear com este venturismo aventureiro, Pedro Passos Coelho está muito mal, etica e intelectualmente. E a mostrar desnorte político, a querer crescer em areias movediças (que o engolirão, a curto prazo). Ou seja, está a atirar a candidatura global PSD para a categoria "lixo" nas agências de avaliação da política. Nós.
- Agradeço imenso ao Pedro Correia pelo convite para regressar ao Delito de Opinião. Desde que daqui partira que me sentia blogo-orfão. Sinto-me agora qual o filho pródigo bíblico.