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Delito de Opinião

Lost in Fuseta soma e segue

Cristina Torrão, 07.04.24

Lost in Fuseta.jpg

Esta saga delituosa começou a 6 de Julho de 2019, quando escrevi sobre policiais alemães, tendo Portugal como cenário (os chamados Portugal-Krimis). Entre eles, estava Lost in Fuseta, de autoria de Gil Ribeiro, sobre o comissário alemão Leander Lost, que vai parar a Fuseta, num qualquer intercâmbio. Com a síndrome de Asperger, Leander Lost possui uma memória fotográfica e não compreende o ilógico. Além de ser incapaz de mentir, não reconhece a ironia, criando situações hilariantes.

Passado três anos, o postal teve direito a mais um comentário. Paula Bonifácio Vilas referiu que a televisão alemã ia passar o filme Lost in Fuseta, a 10 de Setembro de 2022. De facto, o ARD transmitiu dois episódios seguidos (de hora e meia cada), referentes à chegada de Leander Lost ao Algarve e ao seu primeiro caso. Esta foi, por assim dizer, a primeira temporada da série. Passado quase mais um ano, o intrigante comissário alemão chegava à televisão portuguesa. Através da comentadora Manuela Regueiras, ficámos a saber a RTP 2 haver transmitido esses episódios no fim-de-semana de 12 e 13 de Agosto de 2023.

Mas o Leander Lost veio para ficar (pelos vistos, também aqui no Delito). Tendo aquela primeira experiência resultado em boas audiências, o ARD decidiu dar seguimento à série (na versão livro, já vai em seis volumes). Foi transmitida mais uma temporada, de igualmente dois episódios, desta vez, em separado: o primeiro, na passada quinta-feira, e o segundo ontem, dia 6.

Enfim, não admira que o 1.º canal alemão aposte neste policial. O autor dos livros, que se “esconde” por trás do pseudónimo Gil Ribeiro, é, na verdade, um conhecido guionista de telefilmes e séries, vencedor de vários prémios, de sua graça, Holger Karsten Schmidt. A ele é dedicada a pequena caixa, à direita, intitulada “FilmInfo”, acompanhando o anúncio de transmissão do episódio de quinta-feira:

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Escusado será dizer que o próprio Holger Karsten Schmidt escreve os guiões para as filmagens dos livros do seu próprio pseudónimo.

No anúncio do episódio transmitido ontem, a caixa “FilmInfo” serve para sugerir Fuseta como destino de férias. Pois, atenção: Fuseta não é fruto da imaginação de Gil Ribeiro/Holger Karsten Schmidt, existe realmente! Acrescenta-se, no entanto, duvidar-se que uma localidade de apenas 2000 habitantes dê tanto trabalho à Polícia Judiciária. É verdade. Mas que temos nós contra um famoso guionista alemão, que adoptou um pseudónimo português e leva Fuseta e Faro como cenário de policiais de bastante sucesso aos leitores e espectadores alemães?

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Por vezes, não me é claro se o cenário é a capital algarvia, ou a terra da “tia Anica”. Sou uma nulidade nessa matéria, só estive duas vezes no Algarve e uma única em Faro. Mas, enfim, para os alemães é igual ao litro. Além disso, a trama é cheia de suspense, mesmo que, para isso, sejamos levados a fechar os olhos a algumas incongruências. Desta vez, a origem dos crimes estava num complô angolano e, apesar de dois dos protagonistas pertencerem aos Serviços Secretos desse país desde antes da sua independência, não pareciam muito velhos. Enfim, a um deles, poderíamos, com muito boa vontade, dar-lhe setenta e poucos anos, mas ao outro, diria que, no máximo, cinquenta.

Mas para que havemos de ser esquisitos? Leander Lost é bem capaz de levar ainda mais turistas ao Algarve (Fuseta que se prepare, pois tornou-se “location” a visitar). E não é todos os dias que vemos uma produção televisiva alemã, transmitida em “prime-time”, cheia de expressões portuguesas. Além dos clássicos “olá”, “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, “como está”, pode-se ouvir, por exemplo, “polícia judiciária”, expressões culinárias e, claro, uma catrefada de nomes. Em relação a um deles e respectivo diminutivo, Holger Karsten Schmidt permite-se mesmo uma piada alusiva à sua frequência: “Qual Toninho? O filho do padeiro ou do carteiro?”; “Penso que nenhum desses dois”.

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