Livros: dez sugestões de Natal
DIREITA E ESQUERDA, de Joseph Roth (Cavalo de Ferro). Viagem à Berlim de há cem anos, no fugaz interlúdio entre a guerra e a fracassada erupção comunista, por um lado, e a ascensão do nazismo, por outro. Dinheiro, hipocrisia social e radicalismo político são ingredientes deste romance de Roth (1894-1939) enfim editado em Portugal.
NA CABEÇA DE XI, de François Bougon (Zigurate). Inspirado ensaio biográfico sobre o mais poderoso ditador do nosso tempo: Xi Jinping, o Presidente da China, ainda encarado com benevolência em meios geralmente mal informados. Título de referência nesta nova editora, digna de aplauso por surgir em tempos difíceis e não mutilar consoantes.
O SONHO DA CHINA, de Ma Jian (Quetzal). Impiedosa sátira social ao outro lado do espelho do "milagre económico" chinês, marcado pela corrupção da oligarquia comunista agora que a geração dos adolescentes formados na tenebrosa "Revolução Cultural" chegou ao poder. Este romance está proibido na China e o seu autor vive no exilio.
FRANCISCO - O CAMINHO, de Maria João Avillez (Temas e Debates). Transcrição da recente entrevista feita pela jornalista ao Papa para a TVI. Com um prefácio que explica ao leitor como foi possível consegui-la e o contexto concreto em que decorreu, no Vaticano. Francisco pede aos jovens de todo o mundo para «abrirem janelas», com vistas largas.
BREVE HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA, de Roger Scruton (Guerra & Paz). Um dos mestres pensadores do nosso tempo revisita alguns dos filósofos que mais o marcaram. Fascinante percurso pela rota das ideias que fazem girar o mundo. Num estilo elegante e fluente, provando que a erudição não tem de ser árida nem aborrecida.
OLIVENÇA NA HISTÓRIA, de vários autores (Assembleia da República). Muito se fala de Olivença, mas poucos conhecem com rigor o tema - na sua dimensão histórica, cultural e jurídica. Lacuna aqui colmatada, com chancela parlamentar, em textos de valor desigual sobre uma parcela de território sob domínio espanhol que é portuguesa de raiz e lei.
«O MAIS SACANA POSSÍVEL», de António Araújo (Tinta da China). A frase, que o autor adaptou a título com inegável argúcia, é de José Cardoso Pires e serviu de mote inspirador à revista Almanaque, que marcou o início da década de 60 no meio intelectual português. Ainda hoje se fala dela. Toda a história desse mirabolante projecto é contada aqui.
O MUNDO PELOS OLHOS DA LÍNGUA, de Manuel Monteiro (Objectiva). Um dos nossos mais esclarecidos linguistas regressa com uma obra útil a todos quantos escrevem. Alertando para o uso e abuso de erros de palmatória neste nosso idioma por vezes tão maltratado por quem mais devia cuidar dele. Felizmente vai resistindo a quase tudo.
QUARTETO DE HAVANA, de Leonardo Padura (Porto Editora). Na Cuba comunista também há crimes, como em qualquer outro país: o paraíso terreal está longe de existir ali. Quem tiver dúvidas, repare neste excelente escritor, dos raros que não foram presos ou desterrados. Romances policiais ao sol das Caraíbas. Para ler nas linhas e nas entrelinhas.
O INFINITO NUM JUNCO, de Irene Vallejo (Bertrand). Declaração de amor à literatura pela pena ágil de uma investigadora espanhola neste ensaio que parece um romance e foi monumental sucesso de vendas no país vizinho. Fascinante digressão pela civilização greco-romana que há muitos séculos nos ensinou a ler, a escrever, a pensar e a sonhar.