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Delito de Opinião

Livros de cabeceira (9) - série II

João André, 21.09.24

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Há 11 anos, quando escrevemos a primeira série, apresentei a fotografia do meu monte de leitura (um pouco arrumado para se fazer à foto) ao lado da cama. Não existia cabeceira porque tinha um apartamento onde estava durante a semana perto do trabalho, na Alemanha, sendo a verdadeira casa (a Thuis no neerlandês e zu Hause no alemão, o bom e velho Lar português) nos Países Baixos, onde regressava ao fim de semana, feriados, férias e quando conseguia estender a estadia trabalhando a partir de casa.

Estando agora em minha casa, mesmo minha e verdadeiramente Lar onde está a família toda (se bem que continue a ser nos Países Baixos e o escritório na Alemanha), posso colocar uma fotografia com mesa de cabeceira, se bem que os livros se encontram na prateleira de baixo. Teve que ser reorganizada e tem vários livros não porque eu leia assim tanto - até leio menos que no passado, infelizmente - mas porque é partilhada com mais uma leitora. Por isso temos uma mistura algo eclética e só é estranho que não estejam ali mais línguas representadas.

Comecemos de forma sucinta com os da coocupante da mesa de cabeceira: East of Eden, de John Steinbeck e que não precisa de apresentações. Putt's Law and the Successful Technocrat, escrito por Archibald Putt (pseudónimo) e que retrata de certa forma o inverso mas também um complemento ao Princípio de Peter (que numa organização meritocrática as pessoas são promovidas até atingirem o seu nível de incompetência). A Lei de Putt tem duas bases, 1) a Tecnologia é dominada por dois tipos de pessoas: as que a dominam mas não a gerem, e as que a gerem mas não a dominam; e 2) uma hierarquia em organizações tecnológicas irá com o tempo expulsar para cima os incompetentes, para onde não podem fazer estragos na Tecnologia, e manter os competentes nos níveis inferiores, onde sabem o que estão a fazer. É um livrinho engraçado, curto e que se lê depressa, embora como em quase todos os livros deste género, quem o entenda bem também poderia ler o essencial num post de blog. O terceiro livro que ali cohabita é How Successful Engineers Become Great Business Leaders, livro que ainda não abri e por isso nada posso dizer sobre ele.

Quanto aos meus:
Ainda ali anda A Cidadela Branca, de Orhan Pamuk, que acabei há não muito tempo e ainda não me decidi a arrumar na estante. É livro que ainda vou digerindo e já dei por mim a voltar às últimas 15 páginas para as reler, que é onde Pamuk brinca com o leitor, o leva numa viagem da montanha russa mais estonteante que há e causa questões sobre a nossa sanidade. Neste livro, Pamuk cria todo um cenário e uma história sobre duas personagens, ambas sem nome, dinâmicas entre as duas, adiciona personagens secundárias - todas sem nome, apenas títulos - só para finalmente chegar ao que quer fazer nas últimas páginas. É quase um livro de suspense mas sem suspense, muito bucólico, até às últimas 20 páginas. Aí dá a volta ao leitor. Acabei-o por pura coincidência na Turquia, o que me pareceu muito adequado à situação.

Tenho depois o livro que comecei agora, O Segundo Coração, de Bruno Vieira Amaral. É um livro de pequenos textos - poderiam ser posts - sobre episódios e recordações da sua infância e juventude. Sendo o autor apenas uns 3 anos mais novo que eu - e tendo eu escrito também alguns textos sobre a minha infância e juventude - o tema atraiu-me bastante e os pontos de partida para as suas reflexões são facilmente identificáveis. Só que o livro sai-me agridoce. Como escrevi, reconheço muitas das experiências - as corridas de carrinhos, os jogos com bonecos, o hino nacional no final da transmissão da RTP1 - mas não me identifico de forma nenhuma com as reflexões que as recordações provocam e até as vejo como estranhas, como não compreensíveis - não a sua explicação, que é clara, mas a razão por Vieira Amaral pensar dessa forma. Claro que nada disto estraga o livro, mas reduz-me o prazer de o ler, pelo que vai aos soluços. Aquilo que me vai sempre maravilhando é não só a capacidade de Vieira Amaral de se lembrar de imensos pormenores dos episódios que descreve mas também de ser capaz de invocar tantos episódios. Isso é algo que tem dificultado a minha série e só pela inspiração já vale a pena ler o livro.

Tenho por último um livro que já referi antesThe Making of the Atomic Bomb, de Richard Rhodes. Um livro que recebeu o prémio Pulitzer em 1988. Tenho-o na mesa de cabeceira para ir lendo de vez em quando, porque já o conheço bem. Só que é tão rico em detalhes, tão dedicado às personagens, à Ciência, a todo o cenário da sua época e até ao pensamento e Filosofia de algumas das sua personagens, que é quase impossível ficar cansado dele (também tem cerca de 750 páginas sem referências).

Poderia talvez adicionar os audiolivros que vou ouvindo no telefone, mas não só não os ouço tanto na cama - prefiro o carro, comboio ou avião, quando em viagem - mas também não me apeteceu extrair as imagens para colocar. Deixo assim os títulos que ando a ouvir ou ouvi mais recentemente: The Martian e Project Hail Mary, ambos de Andy Weir; Gulag - a History, de Anne Applebaum; Molly's Game, de Molly Bloom; Look Who's Back, de Timur Vernes (ainda não comecei a ouvir a versão alemã); The Lord of the Rings, de J. R. R. Tolkien.

Em resumo: a minha cabeceira é local onde pairam livros durante semanas e às vezes meses e onde acabam também muitos livros infantis, embora de forma mais temporária. É um sítio onde gosto de ir perder uns minutos, infelizmente poucos porque o sono toma conta dos meus olhos com facilidade. Ainda assim, é uma bela forma de fazer descansar o cérebro e me levar a outros mundos e outros conceitos antes de dormir. E não se pode dizer que seja uma má forma de perder a consciência - e depois adormecer.

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