Livros de cabeceira (14) - série II
Ler na cama é um desporto do qual estou reformado: com a velhice, nem o pescoço nem os olhos se prestam já a tais acrobacias. A mesa de cabeceira limita-se agora a ser... mesa de cabeceira, tendo a sua tarefa literária sido herdada por uma (também) velha mesa que reside no meu quarto.
A fotografia supra pode levar algum visitante mais precipitado a deduzir a balbúrdia. Não é verdade: há ali um método e muito fácil de descrever. A pilha da esquerda está reservada a livros e revistas cujo formato facilita o seu transporte na mochila: são estes os que viajarão entre o Seixal e Lisboa. Para o meio, vão as revistas ainda por ler com dimensões que desaconselham o seu consumo fora de casa. Na pilha da direita, enquanto não descobrir forma de as arquivar com dignidade (nesta casa, arrumar as papeladas tornou-se um nível avançado de Tetris), vão-se depositando as revistas lidas.
Não vou ser exaustivo na descrição deste centro-direita. A última revista que li, comprei-a porque, sendo eu um miníaco, padeço também de alfismo. Antes desta, uma velha revista cultural brasileira do início dos anos 80, resgatada ao fundo do inventário de um alfarrabista, que contém uma longa entrevista a Jorge Amado, uma (menos longa) entrevista a Wendy Carlos, um texto de Dick Gregory sobre a sua viagem ao Irão durante a crise dos reféns americanos, duas análises a fenómenos pop brasileiros daquela época, e um par de contos vagamente psicadélicos.
Na coluna dos livros (e revistas alivradas), os primeiros três são releituras planeadas para o Verão - e proteladas para o Outono. Depois, um livro sobre Albufeira publicado pela Arandis, uma editora algarvia. A Máquina Mágica é uma colectânea de textos publicados pelo autor numa coluna de "passatempos computacionais". O livro do Carlos Fiolhais, comprei-o por ser de quem é. Seguir-se-ão um par de edições da Crítica XXI; uma colectânea de entrevistas da Paris Review; e o primeiro número da Granta portuguesa, que comprei há anos em promoção na feira do Livro e nunca cheguei a ler.
Pelo menos, é este o plano. Nada garante que, entretanto, a ordem não seja refeita por um qualquer capricho, ou que um novo livro não tenha entrada directa para o meio da pilha ao invés de ir para o fim.