Livros de cabeceira (11) - série II
Associo o conceito de “leitura de mesa de cabeceira” àquela que se pode fazer aos bocados, sem impedir a leitura de outros livros pelo meio.
O calhamaço Jerusalém, a biografia de Simon Sebag Montefiore, faz parte dos vários que incluí nessa classificação. Comecei a lê-lo do segundo terço em diante, na parte que respeita ao início do século XX. Só depois de ter chegado ao final é que saltei para a primeira página. Este tipo de manobras é impossível em livros que não possam ser classificados “de mesa de cabeceira”. É uma obra repleta de informação histórica e que permite colorir a imagem mental de uma cidade onde, ainda hoje, e para manter a identidade arquitectónica, todas as novas construções têm de ser forradas a pedra branca. A forma clara e explícita como este autor se exprime permite galgar páginas sem ter de recuar para uma releitura. Assim o leitor pode lidar com muita informação, a um ritmo que seria impossível noutros livros de história.
Como se não chegassem todas as referências históricas, religiosas e culturais que associamos à cidade santa, este livro também poderia ser incluído na categoria dos “livros que inspiram viagens”.
Na minha mesa de cabeceira, a biografia desta cidade única, frequenta, ombro a ombro, ou melhor, lombada a lombada, com outros dois, os clássicos dos clássicos, A Ilíada e a A Odisseia. A releitura destes últimos (que historicamente serão sempre os primeiros) despertou-me a atenção para o género. Depois deles, juntou-se à companhia A grande história dos mitos gregos, de Stephen Fry, e sem perder o embalo seguiu-se Antígona de Sófocles.
Muito mais recente, chegou a esta pilha a Eneida de Vergílio. Não sei porquê, mas neste último dei por mim a regressar aos livros que têm de ser lidos de seguida. A longa viagem de Eneias em busca da nova pátria que, sabemos, será Roma, está por isso ainda a marinar.
Na mesma geografia, e recebido de presente, o Roma, história da cidade eterna, de Ferdinand Addis, já mudou de sítio duas vezes à espera que chegue a sua hora, mas isso também ainda não aconteceu. Pode ser que seja o próximo.