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Delito de Opinião

Livros de cabeceira (10) - série II

José Meireles Graça, 28.09.24

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Há três grandes prazeres na vida: ler, comer e esquece-me agora o nome do terceiro.

Pode-se viver apenas com o segundo e o terceiro pode ser intenso mas dura pouco.

A vida sem ler, porém, é só uma; e lendo, muitas. As paisagens, as cidades, os países, as guerras, os costumes e sobretudo as pessoas. As de agora, as de ontem, as de anteontem e até à noite dos tempos quando o primeiro literato se deu ao trabalho de coligir textos, possivelmente acrescentando muito de seu, aí há coisa de 42 séculos.

Nunca mais se parou de escrever, tanto que não é hoje possível haver gente culta no sentido renascentista da palavra, e não só porque o conhecimento científico explodiu, também porque uma vida não chega para percorrer todos os clássicos. Em sentido lato, isto é, os que construíram o edifício da literatura universal até hoje, excluindo os contemporâneos – destes não sabemos quais e quantos são imortais.

Esta grande maçada de a esperança de vida ainda não estar, como devia, aí pelos 160 anos, faz com que cada um seja obrigado a fazer a sua selecção porque simplesmente não há tempo para todos. E há maduros, com a mania que são originais, que de autores clássicos não sabem muito, mas dos contemporâneos ainda menos. Nada que me aflija, se a companhia for de grandes fumos literários refiro de passagem Terêncio, Plauto, Santo Agostinho, Sá de Miranda ou outro monstro sagrado qualquer suficientemente antigo para que a conversa estiole.

Sucede que comecei a substituir a leitura ávida de ficção, ainda que parcialmente, aí há uns 30 anos, por ensaios sobretudo de natureza histórica, de economia, de costumes, de ciência política. Em suma, tudo coisas quase sempre perecíveis – não as matérias, o que sobre elas se escreve.

O livro de cabeceira da fotografia é o dois em um. É do género autobiográfico e talvez não seja uma peça literária, por ser demasiado descritivo e não ter um fio narrativo. Que se dane, lê-se bem. Saiu em 2016 da pena do colega de Trump no ticket de candidatura às eleições e retrata dolorosamente um tempo, uma classe e uma região. Aquela em que vivem o que Hillary Clinton designou como os deploráveis.

Não é um panfleto nem um manifesto e, com base naquele filme vivido, podem-se construir teorias políticas não apenas diferentes mas até opostas.

Bem empregado, e prazeroso, tempo.

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