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Delito de Opinião

Livros de cabeceira (1) - série II

Pedro Correia, 27.07.24

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Confesso: faço aqui uma pequena batota. A fotografia foi tirada em Fevereiro, a minha mesa de cabeceira mudou um pouco de então para cá. Não por ter menos livros, mas por acumular alguns outros em vez de uns quantos destes. 

É verdade: costumo ter vários em lista de espera. Não mais de dez, não menos de cinco. Assim empilhados, junto da cama. Sempre de géneros diferentes. Vou tirando o que mais me apetece - às vezes por impulso, às vezes por intenção deliberada. O que está por cima é aquele que me acompanha com maior regularidade. Será para ler até ao fim no mais curto prazo possível. E logo dá lugar a outro.

Assim aconteceu com Sagarana - edição já antiga, adquirida na Grande Livraria Santiago, outrora igreja, na bela vila de Óbidos. Senti alguma relutância inicial em mergulhar na densa prosa de João Guimarães Rosa, semeada de regionalismos e neologismos. Comparo-o nisto ao nosso Aquilino Ribeiro, de quem era costume dizer-se que só podia ser lido com um dicionário à mão. Desconfiança sem fundamento: é um livro fascinante, que nos transporta ao Brasil primitivo, rural, em que o ser humano parece inseparável da natureza em estado bruto, confundindo-se com ela.

O português recria-se pela pena inconfundível do autor de Grande Sertão: Veredas. Com ele viajamos aos confins de Minas Gerais, sua região natal, conciliando uma espantosa criatividade lexical com a ambiência juvenil das narrativas de aventuras.

 

O Gangue da Chave-Inglesa - trepidante romance ecologista norte-americano, publicado muito antes de o ambientalismo estar na moda - também já abandonou a minha mesa de cabeceira. Com nota muito positiva. Tal como já não consta O Outro Lado do Paraíso, romance de estreia de Scott Fitzgerald, publicado em 1920, quando o futuro autor de O Grande Gatsby pouco mais era do que um adolescente - e reflecte isso, na sua fragilidade que a escrita elegante mal disfarça. Outra obra entretanto removida foi Uma Casa Para Mr. Biswas, copiosa narrativa ficcional de V. S. Naipaul. Mais quantidade (de páginas) do que qualidade: não o considerei obra-prima.

Os restantes permanecem in situ. Alguns haviam sido abandonados a meio, por motivos diversos: aconteceu-me com as obras de Bellow e Canetti. Outros, nem os abri ainda. Chegará o seu tempo.

Tudo isto faz parte dos meus rituais de leitura. E dos pequenos prazeres quotidianos, em que os livros são marco permanente. Os anos passam, mas certas coisas nunca mudam.

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