Liberdade
Que elas existiam no antigo regime, já sabemos. Que elas tiveram um papel preponderante na formação de um espírito crítico, do inconformismo, do saber que existe algo mais para além do muro e que esse algo mais é a liberdade, não tenho dúvidas.
As Bibliotecas.
Instrumento privilegiado, lugar máximo de democracia e de liberdade.
Só nelas todos cabem, sem distinção. Só nelas todos se sentem acolhidos. Só nelas todos encontram o caminho para a superação, para romper ciclos de pobreza económica e social, progredindo ao seu ritmo, de acordo com os seus interesses. Só nelas encontram lazer, informação, conhecimento e cultura, sem ter que pagar por isso. Só nelas, em igualdade de direitos e deveres. Só elas, espalhadas de forma homogénea e coerente por todo o território, têm a capacidade de estar próximas dos cidadãos, disponíveis, numa linguagem de vizinhança, numa relação de confiança.
As bibliotecas que hoje conhecemos são também uma conquista de Abril. Filhas de outras que, tal como os nossos pais, fizeram um longo caminho em surdina, sem perder a esperança, contribuindo a cada dia, em cada pequeno gesto, a cada livro emprestado e lido, para iluminar modestamente a escuridão. As bibliotecas que hoje conhecemos são, por isso, das instituições mais desprezadas e desrespeitadas por aqueles que ontem à noite e hoje colocam a mão no peito ao lado do cravo, em cerimónias solenes, para celebrar Abril. As palavras e os discursos deste dia 25 não correspondem aos actos de quem desinveste, desacredita, menoriza ou fecha bibliotecas com indiferença.
No longo caminho destas casas de liberdade e democracia, este é apenas mais um dia, porque este é o dia em que todos falam do que fazemos sempre, todos os dias: Liberdade.
Sempre 25 de Abril. Vivam as Bibliotecas!