Leveza de ser
No próximo Domingo 15 de Novembro, eu e o meu marido comemoramos o que se convencionou chamar “Bodas de Esmeralda": quarenta anos de um casamento feliz, estável, com os altos e baixos normais num relacionamento normal, com o exercício de paciência diário (eu sou signo Leão, ele é Sportinguista ferrenho, eu sou apartidária, ele é PS desde “pequenino”) tão necessário a uma boa e duradoura convivência.
Para trás ficaram as atribulações dos vinte anos, da vida a correr, dos sacrifícios, das crianças para cuidar em horários desencontrados, sufocantes e difíceis. Éramos dois putos com responsabilidades acrescidas, que as levaram sempre muito a sério e as puseram acima de tudo. Qualquer semelhança com os dias de hoje é pura ficção, dado que presentemente a noção de responsabilidade é esbatida e irreal, como se tem vindo a verificar de dia para dia.
Com a utopia dos planos a longo prazo presente, a comemoração pretendida foi sendo consecutivamente adiada, renovada, remodelada, enfim, destroçada, e ficou resumida a um passeio a dois de um só dia, no dia seguinte à efeméride, porque o Domingo é mais uma vez para confinar.
Fizemos um plano que tem Fátima como um dos locais de paragem. Porquê, perguntam-me, tu nem és lá muito católica! Porque sim. Porque me faz sentir bem. Porque me transmite serenidade . Porque sempre me fez chorar sem saber bem a razão. Porque faz bem chorar. Porque para chorar, não é necessário haver uma razão. Não precisamos de molhadas, podemos apenas pensar em paz e sentirmo-nos gratos pela quietude e levidade espiritual.
Está tudo na minha cabeça? É provável, mas também é um excelente indicativo de que a minha cabeça pode não funcionar assim tão mal.