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Psicopátria em dez romances portugueses
Neste 10 de Junho, apetece-me escrever sobre escritores portugueses. Para mencionar os romances do século XX escritos no nosso idioma que captam as luzes e sombras da portugalidade. Do ponto de vista histórico, social e até geográfico.
Conjunto de romances capazes de proporcionar ao leitor uma visão abrangente da nossa Psicopátria. Ignoro se já foi tema para tese de doutoramento, mas a ideia aqui fica.
Entre as melhores narrativas portuguesas do século passado constam obras que descrevem o homem enquanto ser introspectivo - é o caso de Para Sempre, de Vergílio Ferreira. Ou o definem como membro da sociedade - sucede com Nome de Guerra, de Almada Negreiros. Ou o projectam no mundo e aí o entregam à sua sorte - temos como expoente A Selva, de Ferreira de Castro. Ou retiram coordenadas espaciais e temporais para exporem o ser humano na sua nudez elementar perante um cataclismo global - acontece no emblemático Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago.
Mas a Psicopátria surge noutros romances que nos desvendam enquanto povo neste concreto chão que nos coube em sorte e foi moldando um carácter colectivo.
Se me pedirem para indicar dez, são estes: Cerromaior (1943), de Manuel da Fonseca, Mau Tempo no Canal (1944), de Vitorino Nemésio, A Sibila (1954), de Agustina Bessa-Luís, A Casa Grande de Romarigães (1957), de Aquilino Ribeiro, Barranco de Cegos (1961), de Alves Redol, A Torre da Barbela (1964), de Ruben A., O Delfim (1968), de José Cardoso Pires, O Milagre Segundo Salomé (1975), de José Rodrigues Miguéis, Sinais de Fogo (1979), de Jorge de Sena, e O Esplendor de Portugal (1997), de António Lobo Antunes.
Cada qual no seu estilo, constitui uma ode em prosa à portugalidade. Num tempo e num espaço muito precisos.
Escrevo com a satisfação de saber agora reeditado, na histórica Bertrand, esse monumento à língua portuguesa que é A Casa Grande de Romarigães.
O autor, com excessiva modéstia, procurou desvalorizar esta obra chamando-lhe «crónica romanceada». É definição que desconsidera um dos melhores romances escritos neste idioma de Camões, Vieira e Pessoa. Romance sobre o apogeu e decadência de um solar brasonado no Alto Minho e da família que o foi habitando ao longo de sucessivas gerações. Na peculiar sintaxe barroca de mestre Aquilino, semeada de coloquialismos e neologismos da sua lavra. Com diálogos saborosíssimos e episódios exemplares que nos perduram na memória.
Romance que ironiza sobre o País mas sente imensa ternura por ele. Como muitos de nós fazemos, afinal.