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Ano após ano, centenas de palavras entram em desuso entre nós
Tornei-me ainda mais adepto do género epistolar desde que entrámos na era dos sms. Uma era que nos tem conduzido a uma rápida compressão vocabular.
Fala-se cada vez mais rápido e cada vez de forma mais "económica": bastam algumas dezenas de vocábulos para assegurar a comunicação instantânea. Tudo muito básico, muito linear. Ano após ano, centenas de palavras entram definitivamente em desuso entre nós.
Para combater esta tendência, nada melhor do que regressar a páginas já antigas, algumas até de livros amarelecidos pela erosão do tempo.
Regressar aos romances de Eça de Queiroz, regressar ao Livro do Desassossego de Fernando Pessoa. Regressar aos diários de Miguel Torga, regressar à prosa diarística de Vergílio Ferreira hoje só disponível em alfarrabistas, regressar aos contos de José Rodrigues Miguéis e José Cardoso Pires, aos versos de Sophia de Mello Breyner Andresen, aos inflamados panfletos de Jorge de Sena. Às cartas de todos eles.
Para que este nosso precioso mas tão frágil património não se perca para sempre.