Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Ler (29)

Os melhores livros do meu ano - I

Pedro Correia, 19.01.24

livros.jpg

Um ano terminou, outro começa. Mas algo nunca se interrompe, cá por casa: o fluxo de leituras. Mesmo que os filmes sejam vistos em menos quantidade e até várias séries televisivas tenham ficado por consumir - com uma excepção que tenciono mencionar aqui dentro de dias, antes que a agitação política volte a dominar-nos o quotidiano. A leitura merece prioridade.

De qualquer modo, por motivos muito pessoais, em 2023 li menos do que gostaria. E bastante menos do que nos dois anos anteriores. Em 2020 e 2021, conforme dei nota aqui, li 200 livros completos - uma centena em cada ano, nesses tempos que propiciavam poucas saídas e quase nenhumas viagens devido à pandemia. O que constituiu um incentivo suplementar à leitura.

Em 2022, já com o vírus posto à distância, reduzi um pouco o caudal de livros em que mergulhei de fio a pavio durante esses doze meses: foram 88. Mais, apesar de tudo, do que os do ano recém-terminado: desta vez fiquei-me por 71. Quase seis por mês, em média, apesar de tudo. Num país em que 58,1% dos nossos compatriotas (alguns de vocês, presumo) ficaram totalmente em branco: nem um livro para amostra foram capazes de ler em 2022, último ano em que há estatísticas.

Estatísticas que nos envergonham. E que nos deixam atrás de vários países do chamado Terceiro Mundo.

 

Como em anos anteriores, faço agora um balanço das minhas leituras de 2023. Dividindo-o em três partes: os cinco melhores ensaios de autores estrangeiros (já hoje, aqui em baixo), os cinco melhores livros de autores portugueses, os dez melhores romances (todos estrangeiros, em tradução).

Breve apontamento dedicado a cada um. Por ordem alfabética: é a que prefiro.

 

Entretanto, olho para o que se amontoa à minha cabeceira. Livros de centenas de páginas, daqueles que nos absorvem durante semanas ou até meses, exigindo grande parte da nossa atenção, quase em exclusivo.

Eis alguns: Jerusalém, de Simon Sebag Montefiore (657 pp.), Rússia - Revolução e Guerra Civil 1917-1921, de Anthony Beevor (671 pp.), O Novo Czar - Ascensão e Reinado de Vladimir Putin, de Steven Lee Myers (670 pp.), Mao - A História Desconhecida, de Jung Chang (803 pp.), Liderança, de Henry Kissinger (559 pp, das quais já li cerca de metade), O Século de Sartre, de Bernard-Henry Lévy (712 pp.) e Entrevistas, de Jorge de Sena (483 pp.). Sem esquecer Escritores y Artistas Bajo el Comunismo, de Manuel Florentín (910 pp.), que mão amiga acaba de trazer-me de Madrid.

Só estes já são programa para um ano inteiro.

 

Verifico entretanto que vários títulos que constavam do meu plano de leituras para 2023 permaneceram em pousio: ainda não foi desta que lhes peguei. Anoto-os no parágrafo que vai seguir-se, como uma espécie de incentivo suplementar a mim próprio.

Uma Casa Para Mr. Biswas (V. S. Naipaul), Herzog - Um Homem do Nosso Tempo (Saul Bellow), A Piada Infinita (David Foster Wallace), Na Minha Morte (William Faulkner), O Templo da Aurora (Yukio Mishima), Sagarana (Guimarães Rosa), Os Sonâmbulos (Hermann Broch), Auto-de-Fé (Elias Canetti), A Consciência de Zeno (Italo Zvevo), Rua Principal (Sinclair Lewis), Este Lado do Paraiso (Scott Fitzgerald). 

Será desta que os abrirei?

Daqui a um ano, se não for antes, voltamos a conversar.

 

................................................................

 

A BIBLIOTECA DE ESTALINE, de Geoffrey Roberts (2022). Minuciosa investigação deste historiador irlandês ao que resta do vasto espólio bibliográfico do tirano soviético, leitor compulsivo. Estaline não se limitava a ler: fazia constantes anotações nas obras que tinha sempre à mão, tanto no Kremlin como na sua confortável mansão de campo. Lia poesia e conhecia grande parte dos clássicos da literatura. Edição Zigurate.

 

A RELIGIÃO WOKE, de Jean-François Braunstein (2022). Talvez o melhor livro publicado entre nós, até ao momento, sobre as novas censuras que alastram em meios académicos e jornalísticos em nome de boas causas que servem de pretexto para torpedear direitos e liberdades. Louvável liberdade de pensamento expressa nestas páginas: o historiador francês não hesita em navegar contra a corrente. Edição Guerra & Paz.

 

A VIDA POR ESCRITO, de Ruy Castro (2022). Jornalista de formação, este talentoso carioca nascido em Minas é hoje o melhor biógrafo do nosso idioma. Nesta sua mais recente obra enuncia as regras fundamentais da escrita que podem transformar cada biografia num sucesso literário. Com ele tem sido assim - daí ter tantos leitores, não apenas no Brasil mas também em Portugal. Edição Tinta da China.

 

DIREITO A OFENDER, de Mike Hume (2015). Excelente reflexão deste jornalista e colunista britânico sobre os limites cada vez mais rígidos à liberdade de expressão impostos pelo ar do tempo. Como tem sido tragicamente demonstrado em acontecimentos que fazem proliferar o medo: aconteceu com o massacre de Janeiro de 2015 na redacção do Charlie Hebdo, em Paris. Não augura nada de bom. Edição Tinta da China.

 

OH JERUSALÉM, de Dominique Lapierre e Larry Collins (1971). Ao contrário do que alguns supõem, os conflitos na Palestina não começaram em 1948, com a fundação de Israel. São muito anteriores, como demonstra esta obra já clássica. Investigação jornalística sobre aqueles dias do pós-Holocausto, quando a ONU deu luz verde ao nascimento do Estado que serviu de refúgio a um dos povos mais perseguidos da História. Edição Bertrand.

22 comentários

Comentar post