Leituras Dominicais
Não sou um grande fan do estilo de João Pedro George. Exemplo desse meu desconforto é como recebi o seu recente, tão interessante e até etnográfico escalpar de António Mega Ferreira (que veio a morrer pouco depois), demonstrando as continuidades entre Estado Novo e esta (II/III ?) República, bem avessas à mitografia vigente, e tão demonstrativo das formas de apropriação dos recursos públicos pelas redes de agentes do aparelhismo. Mas o acinte palavroso do analista - que não é embrulho mas sim conteúdo - abespinha-me.
Enfim, no domingo vim do Minho até Lisboa de autocarro. Nisso terminei o pdf do sagaz e sábio Bayart “Os estudos póscoloniais: um carnaval académico“, uma resenha letal sobre a mediocridade dessa tralha “decolonial”, por cá alapada no "Público", ”activismo”, academia esquerdista e “africanistas” da moda. Depois terminei esta colectânea de Joaquim Paço d’Arcos, escritor muito lido em meados de XX, livro que comprei em data incerta em banca de monos. Contos competentes mas nos quais não encontrei o indizível que procuro na ficção. Entretanto, já após o cigarro fumado na breve escala na estação de Fátima, li o texto de George no “Sol” sobre o romance da jornalista Anabela Mota Ribeiro ("A Questão do Cocó: Um Estudo de Caso"), livro que tem vindo a ser muito elogiado e no qual a autora elabora sobre as suas fezes e as estratégias que assumiu para defecar desde a mais tenra infância. A análise de George elucidou-me. Fez-me rir. E reconciliou-me com o seu estilo.
Nisto lá cheguei ao terminal rodoviário de Sete Rios. A caminho do metro encontrei uma banca de livros usados. Uma avantajada secção francófona - do “Pére Goriot” a Montherlant ou Julien Green… Tudo a 3 euros, cada. Ou 5 se emparelhados. Ou seja, para quê andar a comprar estas “novidades” sobre fezes?
(Deixado no Nenhures)