Leituras ao domingo
“A primeira premissa da Ontologia Portuguesa é a seguinte: Há uma diferença fundamental entre o HAVER, de aplicação universal, e o HAVER-HAVER, exclusivamente português. […] Este verbo HAVER-HAVER, que se conjuga quase sempre na terceira pessoa do singular do presente do indicativo («Ele haver, há…») tem um estatuto ontológico rigoroso. «Haver, há…» significa, em português, «Há, mas não existe». Há vários exemplos que se podem dar. Pergunta-se se há Cinema Português e responde-se honestamente que não. Para ser mais preciso, acrescenta-se «Quer dizer: haver há…só que, enquanto tal, não existe». […] Existir enquanto tal não é, de facto, o existir português.”
Miguel Esteves Cardoso (2002), A Causa das Coisas, Lisboa: Assírio & Alvim, p. 121. [ed. orig. 1986]