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Delito de Opinião

Leituras

Pedro Correia, 07.09.19

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«O trabalho liberta-nos de três calamidades: o aborrecimento, o vício e a necessidade.»

Voltaire, Cândido ou o Optimismo (1759)p. 164

Ed. Visão, 2016. Tradução de Maria Archer

8 comentários

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    João Campos 07.09.2019

    Isabel, se me permite a pergunta, já trabalhou num call center?
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    Anónimo 07.09.2019

    Já, caro João Campos.

    Isabel
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    João Campos 08.09.2019

    E achou esse trabalho "útil e válido"?

    A minha experiência - que estará muito longe de ser das piores, de acordo com as descrições feitas por alguns amigos que trabalharam em "outbound" (estas tretas saem todas em estrangeiro) - é de um trabalho absolutamente inútil, irrelevante, e estupidificante. Ao fim de oito horas com os auriculares nos ouvidos, o cérebro não permitia muito mais do que um ecrã de televisão a passar qualquer coisa pouco sofisticada, e o ordenado mínimo não permitia grandes sonhos ou aventuras. Que venha um HAL 9000 responder aos pedidos mais imbecis "I'm sorry, Dave, I'm afraid I can't do that"; quando chegar, já chegará tarde.
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    Anónimo 08.09.2019

    Um dos nossos principais problemas é acharmos que só um tipo de trabalho dignifica e, pior, fazer corresponder essa valorização às funções de gestão ou comando.

    Todos os ofícios têm momentos rotineiros e "estupidificantes". Isso não retira mérito nem dignidade ao trabalho.

    O que está errado é não valorizar o ofício em si, mas sim o estatuto social que pode variar conforme os ventos.

    O que está errado é chamar estúpido ao trabalhador, ao invés de defender que este seja considerado, respeitado e bem remunerado.

    Isabel
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    João Campos 08.09.2019

    Esse erro não é meu. As funções de comando ou de gestão não funcionam se não tiverem ninguém para comandar ou gerir. E isso do estatuto social é uma piada que só resulta se todos aceitarmos fazer parte dela.

    Sim, todos os trabalhos têm momentos rotineiros e estupidificantes. E há trabalhos que são rotineiros e estupidificantes. Imagino que trabalhador numa linha de montagem seja um exemplo, se ainda houver linhas de montagem com trabalhadores humanos. E outro, que conheci durante treze longos meses, é operador de call center. Se na sua experiência encontrou mérito, dignidade ou utilidade na coisa, parabéns. Eu não encontrei, nem conheci quem tenha encontrado. Pelo contrário: conheci pessoas inteligentes e capazes presas a um trabalho esgotante durante anos a fio para chegarem ao fim do mês a contar trocos, na ambição de que talvez aquele suplício diário permita chegar a algum lado (na maioria dos casos não permite). Mais do que estupidificar, desumaniza - quem está do outro lado da linha esquece-se facilmente de que fala com uma pessoa real, e não com um atendedor de chamadas glorificado, e a dada altura a única forma de lidar com isso é esquecendo que quem liga é, também, uma pessoa real. É com indiferença, portanto - e poucas coisas corroem tanto como a indiferença.

    No entanto, é um pouco como servir às mesas - toda a gente devia fazê-lo uma vez na vida, nem que fosse só por um mês (eu fi-lo, e por vários meses). Acabaria com muitas manias.
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    Anónimo 08.09.2019

    As funções de comando ou de gestão não funcionam se não tiverem ninguém para comandar ou gerir.

    Disse tudo nesta frase. Nada nasce feito

    E é uma ilusão, por um lado, achar que as máquinas algum dia farão tudo quando os humanos não queiram fazer e, por outro, presumir que todos os humanos têm capacidade ou vontade intelectual/criativa para assumir voos mais altos. Ou simples oportunidade.

    Quis salientar que hoje em dia é muito usual desvalorizar um trabalho por não ser da área de formação ou não ser apelativo intelectual ou socialmente. Puro engano, ter pessoas mais formadas, mais capazes e mais exigentes a desempenhar funções ditas 'menores' é uma assinalável vantagem para as empresas. Além do que, os trabalhadores se forem de facto mais capazes, cedo ou tarde, saberão enveredar por caminhos mais compensadores.

    O erro, continuo a achar, está em não valorizar e remunerar com justiça quem faz bem, quem é bom naquilo que faz, ainda que seja a coser 70 bolsos de calças por dia.

    E enquanto vingar o discurso da desvalorização e menorização desse tipo de trabalhos haverá pretexto para as entidades patronais pagarem o menos possível, com o argumento de que 'aquilo' até uma máquina faz. O pretexto perfeito para tratar trabalhadores como máquinas.

    Isabel
  • Isabel, voltei

    Julgo que as máquinas deveriam libertar o Homem de todo os Trabalhos, sobretudo do estupidificante,tendo eu atenção, em não confundir estúpido, com simples. Coser sapatos, fechado num armazém é um trabalho que decompõe mãos e cabeça. Trabalhar na terra, tendo por luz, a do sol, e o céu, tecto, vivendo ao ritmo do staccato da vida não é estupidificação da nossa natureza , mas sim emulação. (mexer na terra é antidepressivo, segundo os referidos psiquiatras).

    Aliás, nem entendo porque diabos não deve ser objectivo da tecnologia criar máquinas que substituam o Homem nas mais variadas áreas do fazer. Dinheiro, dizem? Para quê a necessidade dele se seriam as máquinas a trabalhar?

    São tantas as coisas que gostaria de fazer, mas que a vida do trabalho me impede. Viajar, dar a volta ao mundo, conhecer, para um dia conseguir dar-me a volta e virar - me do avesso. Conhecer - me a mim próprio.

    O que chateia, a alguns, num mundo feito de máquinas, é que com a perda do valor do dinheiro, haver uma, consequente, perda de hierarquia social. Pois se há algo (porventura a sua principal função) que o dinheiro permite é a formação de hierarquias e o gozo que a alguns "muitos" isso dá. O poder mostrar - se a mais e mais que o outro. Essa necessidade de reconhecimento material.

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