De Anónimo a 11.12.2018 às 11:17
Ainda ontem falávamos do ensino.
Este texto, muito criativo e literário na forma, é também muito assertivo na distinção entre o ensino que temos tido e o que deveríamos ter.
Não é por acaso que deveremos ser dos que mais investem (perdão, consomem) em explicações, per capita.
E eu diria que o verdadeiro desenvolvimento de uma sociedade está na razão inversa do gasto em explicações escolares.
Para nossa desgraça coletiva, é esse mesmo o ensino que temos tido:
- O adestramento canino, visando a habilidade de preencher testes e exames, segundo as expectativas, sem o contributo minimamente suficiente da inteligência e da criatividade dos intervenientes.
João de Brito
De Luís Lavoura a 11.12.2018 às 11:34
O meu filho mais velho, que entrou agora na universidade, recusou-se a ler Os Maias. Nem sequer leu aquelas súmulas que são publicadas para alunos a ensinar-lhes o básico daquilo que deveriam ter lido. Para responder nos exames recorreu a cábulas que a mãe lhe fez.
Tal como não leu Os Maias, também não leu nenhuma das outras obras de leitura obrigatória.
Ele lê; mas coisas que lhe interessam e atuais. Não lê velharias.
De Costa a 11.12.2018 às 14:45
Tal pai, tal filho, de facto. Devem os dois sacar da pistola quando lhes falam de cultura.
Costa
Não exageremos, Costa. Só sacam da bisnaga.
De Costa a 11.12.2018 às 15:33
Seja. Não será então uma pistola, mas não andará longe das suas vontades uma pira ritual onde essas "velharias" todas arderiam exemplarmente. O mundo ficaria bem melhor, sem dúvida, só com "coisas que interessam". Coisas "atuais", evidentemente.
De facto andam entes distópicos por aqui.
Costa
Costa, desculpe pelo da outra vez.
De Costa a 12.12.2018 às 13:09
Refere-se àquilo da jovem sueca? Ó homem, onde isso já vai... Tenho razões para crer que ainda por aqui trocaremos vivas linhas de discórdia sobre isto ou aquilo. E esperemos que sim.
Afinal ainda não há muito tempo isso ser-nos-ia decerto impossível (salvo no recato de um encontro pessoal e em voz baixa, ou por correspondência desejavelmente inviolada e na confiança de que um não denunciaria o outro aos poderes de turno) e, tudo visto, tão pouco tempo passado depois desse e já as coisas se encaminham para que discordar, pensar diferente, volte a ser - leve a inteligentsia dominante o seu projecto até ao fim, e parece imparável - ousadia inaceitável.
Costa
Ps. Ali em cima escrevi "atuais" deliberadamente sem "c". Pareceu-me que se deveria na circunstância, tamanha a estupidez tão orgulhosa e arrogantemente afirmada no primeiro comentário a este postal, usar o infame "patois" lavourês.
De Costa a 12.12.2018 às 13:57
Peço desculpa, a tremenda lavourada está, evidentemente, no segundo comentário.
Costa
De Cristina M. a 11.12.2018 às 14:32
Xiça!
De Anónimo a 11.12.2018 às 16:25
Também.
O ensino é, ele mesmo, uma velharia.
Todo virado para trás, de costas para a vida.
Nessa exata medida constitui-se como um doloroso mau trato à nossa criançada.
Porque é o que é um dia inteiro fechado numa sala, também de costas para os colegas, e de frente para alguém que debita frases feitas e tão velhas como os fenícios, como os gregos, como os romanos... que se guerrearam em horrorosas batalhas campais... enquanto, no bolso, interdito e sequestrado, o telemóvel cala a Guerra das Estrelas.
Que tortura!
Que desumanidade!
João de Brito
De Anónimo a 12.12.2018 às 11:10
Fazer cábulas para os exames do filho.
Nunca tal ouvi, destrutiva e mordaz a sua afirmação.

De xico a 15.12.2018 às 22:01
Eu, que embirro com o Eça, leio-o sempre só pelo prazer de ter motivos para embirrar com ele. Só para ter o prazer de lhe dizer que o Camilo era melhor! Mas leio sempre.
O problema principal, a meu ver, relaciona-se com a perda de importância da cultura ( o pensamento pelo prazer do pensar), em sentido lato, relativamente ao conhecimento tecnológico (o pensamento ao serviço da produção material). Mas também à proeminência de um certo tipo de ser - Homo economicus, um Homem egoísta, "pragmático", não reflexivo, quanto aos meios usados para alcançar um determinado fim, que ser quer imediato - derivado do que a modernidade, via publicidade, entende como realização pessoal / natureza humana/sucesso. Uma consumação pelo consumo.
Quantos usam a contemplação e não a aquisição na busca da felicidade? Uma minoria hoje e sempre
Porventura o "problema "dos Maias é mais antigo, não sendo de "hoje" . Penso que há 40 anos haveriam alunos que o liam e outros que o tresliam. Assim como os Lusiadas, ou a obra de Fernando Pessoa.
São velhos problemas recursivos.
De lucklucky a 11.12.2018 às 13:56
Mas depois queres os "Serviços Públicos" que existem por causa do Homo economicus...
Aponto-te as estrelas e tu fixas-te no dedo!
De Anónimo a 11.12.2018 às 16:00
Há uma grande vantagem que reconheço aos conhecimentos tecnológicos relativamente aos humanísticos.
Vantagem que reside na avaliação.
Nas tecnológicas a avaliação é direta e cristalina - se funciona, está certo; se não funciona, está errado.
Nas humanistas, tudo se torna muito subjetivo.
E nós adoramos esconder-nos, do mérito, atrás do subjetivismo.
Por um lado, tudo é relativo.
Por outro lado, somos todos iguais... todos funcionários públicos!
Perguntem aos sindicatos.
João de
Para o bom uso da tecnologia é fundamental um aprofundado conhecimento humanístico.
E o maior ou menor conhecimento humanístico determina o sentido da investigação cientifica - ex: telemóveis, ou sondas espaciais.
De Manuel Alves a 11.12.2018 às 21:37
" haveriam alunos " Que grande calinada!!!! Imperdoável.
Havia...e é perdoável....pois ainda aqui estou.
Ou vai dar-me um tau tau?
De Anónimo a 11.12.2018 às 16:54
"O direito ao ensino tem sido garantido..."
Isto é ser muito otimista.
O ensino tem sido tão mau que deixou de ser um direito para ser um dever.
E a prova está na obrigatoriedade até ao 12º ano.
Um pouco como na política e pelos mesmos motivos - não tardará que o voto deixe de ser um direito para ser um dever.
É assim o mundo às avessas em que vivemos.
Temos de reagir.
Com ou sem colete.
João de Brito
De Sarin a 11.12.2018 às 18:02
Repare na distinção que fiz entre direito ao ensino e direito à educação.
Penso que responde e transforma o seu comentário em adenda e não em contestação.
De Anónimo a 12.12.2018 às 15:17
E pensa muito bem.
Adenda: se nem sequer se ensina como deve ser, como deve ser a educação?!...
João de Brito
De Sarin a 12.12.2018 às 15:51
Auto-consciência também educa para a busca da educação. Ninguém nasce ensinado, mas todos nascemos com curiosidade mínima, todos. É talvez o que nos leva a abrir os olhos mesmo quando privados de visão.
De Sarin a 12.12.2018 às 16:34
Caro joão de brito, por acaso não terá um blogue e um email onde o possa contactar? Acredite que me daria um jeitão... não a mim, mas a uma ideia. Se ambas as respostas forem afirmativas, agradeço-lhe que siga as letras vermelhas acima e escreva para a @ que encontrar.
Obrigada :)
Tenta no Tinder

De Sarin a 12.12.2018 às 21:38
De Luís Lavoura a 12.12.2018 às 12:31
Os argumentos que Afonso Reis Cabral aduz para se ler Os Maias são válidos igualmente para muitos outros livros. Com a vantagem de que esses outros livros são menos longos e tratam de temas mais atuais e de uma sociedade e uma cultura que os jovens compreendem melhor.
De Sarin a 12.12.2018 às 16:41
Quem descuida a História hipoteca o Futuro. Vale para o concreto como para as artes, sendo que as artes cristalizam um pouco a visão do tempo em que são criadas as obras - e Eça fá-lo magistralmente e com abundância.
De Luís Lavoura a 12.12.2018 às 18:18
Eu não digo que se deva descuidar a História. Mas, será necessário ou conveniente ou, sequer, possível, ensiná-la toda a todos os jovens ou crianças? Não será mais proveitoso deixar que algumas partes dessa História sejam apenas aprendidas e apreendidas por algumas pessoas (não por todas), e somente quando forem adultas?
À medida que a sociedade progride, certos conceitos e relações que para os nossos antepassados eram óbvios tornam-se muitíssimo complicados de explicar, porque já estão muito longe daquilo que agora se faz. Será necessário estarmos a exigir a todas as crianças e a todos os jovens que procurem compreender esses conceitos e relações, e interessar-se por eles? Não será mais correto que eles sejam aprendidos somente mais tarde e somente por aqueles que mostrem inclinação para isso?
De Sarin a 12.12.2018 às 21:48
Se plantar uma macieira ou um limoeiro e não retirar os ladrões nem não orientar os ramos mais soltos, a árvore cresce, sem dúvida, mas os seus frutos serão irregulares, maioritariamente pequenos e terão uma maturação dificultada pelo excesso de folhagem. Talvez desbastando folhas e frutos consiga obter uma produção melhor, mas não tão boa como poderia ter sido - e terá muito mas muito mais trabalho e a árvore terá consumido muitos mais nutrientes e água. E não terá produzido muito mais oxigénio.
Assim acontece com as crianças e adolescentes que não são estimulados nem orientados.
De André Miguel a 12.12.2018 às 19:57
Quem nunca leu Homero e Platão não sabe sequer ler.
De Manuel Alves a 12.12.2018 às 22:06
Ena pá, então eu sou analfabeto?? Só hoje o descobri (e em jovem fiz um doutoramento).
De André Miguel a 13.12.2018 às 06:36
Se o Sr. Dr. não entendeu o meu comentário, sim, é analfabeto.