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Delito de Opinião

Legislativas (9)

Pedro Correia, 16.09.15

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As eleições ganham-se ao centro. E as excepções só confirmam a regra, como a vitória de Pirro do Syriza na Grécia comprova oito meses depois. Ninguém ficou menos surpreendido do que eu: enquanto outros lhe entoavam hossanas, logo em Janeiro vaticinei aqui que a coligação liderada por Alexis Tsipras iria "desfazer-se em poucos meses" e o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, seria "o primeiro a abandonar o barco".
António Costa foi criticado, e muito bem, por se ter esganiçado nessa altura em louvor do Syriza. Recentrou-se entretanto, por convicção ou tacticismo: o secretário-geral do PS sabe que só ganhará as legislativas se sacudir a poalha esquerdista que foi acumulando na gola do casaco.
Paulo Portas e Passos Coelho foram condescendentes nos debates televisivos que travaram com Catarina Martins. Percebe-se: não disputam eleitorado com ela e até lhes dá jeito que o Bloco de Esquerda cresça um pouco, à custa do PS, seguindo o princípio dos vasos comunicantes. Eram debates que qualquer deles se deu ao luxo de perder ou empatar sem custo de qualquer espécie: os votos tresmalhados no BE funcionam como uma espécie de seguro da coligação contra a intempérie socialista.


O Bloco - esgotada a sua agenda "fracturante"- ficou sem bandeiras. Órfão da liderança carismática de Francisco Louçã, está entalado estrategicamente entre o PS e a "verdadeira esquerda", pura e dura, a do PCP. Catarina Martins mais não tem repetido nesta campanha do que as teses comunistas. Sobre a construção europeia, o euro, o Tratado Orçamental, a "reestruturação da dívida", o PS como "aliado da direita".
Para os eleitores que restam do BE só haverá voto útil se puder conduzir a uma solução governativa à esquerda: enquanto partido de protesto com visibilidade na cena política portuguesa, chega e sobra o PCP. No entanto nada disso tem reflexos na mensagem de Catarina Martins, que já se situa à esquerda do Syriza - antiga "esperança para toda a Europa", rapidamente esmorecida. Cada vez mais longe da família dominante no socialismo europeu.


Neste contexto, o apelo lançado pela porta-voz bloquista no minuto que lhe restava do frente-a-frente com Costa, na noite de segunda-feira, foi quase patético: o Bloco de Esquerda admite agora "conversar" com o PS... se o PS abdicar das suas bandeiras eleitorais.
Desta forma, Catarina empurrou o líder socialista para o centro. Ele agradece-lhe a gentileza, certamente, porque isso contribui para cativar o eleitorado flutuante dessa área. Já agora: Jerónimo de Sousa também. Porque o PCP tem garantidos de antemão os votos da "verdadeira esquerda" mesmo que os amanhãs tenham há muito deixado de cantar.

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