Legislativas (8)
DEBATE ANTÓNIO COSTA-CATARINA MARTINS
O secretário-geral do PS saiu esta noite claramente vencedor do debate que travou na TVI 24 com a porta-voz do Bloco de Esquerda. Um debate que começou em atmosfera cordata mas que cedo se foi crispando.
Catarina Martins até foi a primeira a marcar pontos, conseguindo irritar António Costa ao mencionar um ponto "escondido" do programa socialista: o congelamento das pensões de reforma na próxima legislatura.
"Os pensionistas continuam a ser uma espécie de porquinho-mealheiro dos saldos orçamentais", atacou a líder bloquista, acusando o PS de procurar consolidar as contas públicas, na próxima legislatura, em 1,660 milhões de euros à custa dos pensionistas, que veriam o seu rendimento inalterado até 2019. "Tem a mesma lógica da direita: uma contínua desvalorização salarial."
Agarrou-se de tal forma a este tema que acabou por invocá-lo oito vezes, com manifesto exagero. Costa começou à defesa: "Não assumimos compromissos além daquilo que responsavelmente podemos gastar. Prefiro assumir um compromisso menor [na segurança social] e ir mais além em vez de prometer algo que não posso cumprir."
Mas cedo passou ao contra-ataque, colando a sua parceira de debate às políticas fracassadas do Syriza e apontando um dedo acusador: "O Bloco pode prometer tudo a todos - dos pensionistas às crianças que estão no berçário, porque todo o seu programa assenta na reestruturação da dívida. Depois do que aconteceu na Grécia, o BE devia ter alguma humildade. Alguém acredita que se houvesse um governo BE conseguiria aquilo que Tsipras e Varoufakis não conseguiram?"
Catarina descolou do Syriza, reconhecendo que "as esperanças dos gregos foram esmagadas e foi-lhes imposto um programa de austeridade e pilhagem". Mas insistiu na reestruturação da dívida, invocando a antecessora de Passos Coelho na liderança do PSD em abono da sua tese enquanto endereçava uma farpa a Costa: "Está à direita de Manuela Ferreira Leite, que acha necessária a reestruturação da dívida." Foi pelo menos a quinta vez que a líder do BE evocou a antiga presidente do PSD nesta campanha...
Costa devolveu-lhe a farpa com juros, aproveitando para fazer uma confissão: "Sempre fui social-democrata, desde os 14 anos, sem tentações esquerdistas. E sempre me afligiu nos esquerdistas passarem a vida toda a fazer discursos, incapazes de resolver um problema concreto de uma pessoa."
Catarina acusou-o de "desistir do País". Mas o secretário-geral socialista ia embalado e não afrouxou: recorrendo por sua vez ao programa bloquista, disse que o BE quer nacionalizar a banca, a GALP, a REN e a EDP. "Onde estão as contas? Onde vão buscar o dinheiro? Quanto custa isto?"
Ficou claro que existem demasiados temas a separar socialistas e bloquistas: a manutenção do País na moeda única, a consolidação das contas públicas, os compromissos europeus, o vasto pacote de estatização de empresas que consta das prioridades do BE. Mas Catarina aproveitou o minuto final para ensaiar a que seria a surpresa da noite, numa óbvia tentativa de combater a dinâmica do voto útil à esquerda: está disponível para dialogar com o PS, no dia seguinte às legislativas, se os socialistas puserem de lado o congelamento das pensões, o anunciado corte da TSU e o "regime conciliatório que flexibiliza os despedimentos". A menos que - ironizou - o actual líder do principal partido da oposição prefira dialogar "com Rui Rio ou Paulo Portas".
Deste repto poderia ter resultado a principal notícia deste frente-a-frente, moderado pelo jornalista Pedro Pinto. Mas assim não foi. Porque Costa o ignorou por completo. Falou depois de Catarina sem demonstrar sequer ter ouvido alguma coisa.
Saiu com uma imagem mais moderada deste debate do que entrou. E nada mais lhe interessava senão isto.
........................................ FRASES Catarina - «Sempre distingui o PS da direita.» Costa - «Tem dias, tem dias...» Catarina - «Os partidos socialistas europeus contribuíram para o esmagamento da Grécia, para a chantagem.» Costa - «Tenho alguma irritação com o Bloco de Esquerda...» Catarina - «Temos de nos preparar para um eventual rompimento com a União Monetária.» Costa - «Pior que tudo seria a desvalorização atroz que resultaria da nossa saída do euro. Imagina o que seria o salário mínimo nacional convertido em escudos?» Catarina - «Assumir o confronto é a única forma de defender o País.» Costa - «Assumir o confronto foi aquilo que o governo Syriza quis fazer, com os resultados que teve.»