Le parti c'est moi
António Costa foi ontem confrontado com o pedido de demissão do ministro das Finanças devido ao conflito surgido a propósito de uma injecção financeira ao Novo Banco - aliás prevista no contrato assinado em Outubro de 2017 entre o Estado e o fundo norte-americano Lone Star, em obediência à Resolução 151-A/2017, do Conselho de Ministros. Assinada por ambos, Costa e Centeno.
Perante este problema, o chefe do Governo recorreu a um dos seus truques mediáticos: desviou o foco noticioso, aproveitando uma visita à Autoeuropa para lançar a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa ao Palácio de Belém. Com o apoio implícito do partido do Governo e a convicção plena de um triunfo nas urnas - ao ponto de ter antecipado aos portugueses que daqui a um ano Marcelo continuará ao leme da barca presidencial.
De uma assentada, resolveu três problemas: mudou de imediato o curso das manchetes noticiosas, com óbvio impacto internacional, pois Centeno é também presidente do Eurogrupo; reforçou o afecto do Chefe do Estado, algo sempre útil em situações de crise; e afastou de cena a incómoda Ana Gomes, que não contará com o seu voto.
O spin governamental apressou-se a comunicar que, naquele momento, Costa não falava enquanto primeiro-ministro - apesar de a visita a Palmela constar da sua agenda oficial - mas como secretário-geral do PS. O que torna tudo mais insólito, pois não consta que tenha consultado os órgãos dirigentes nem as bases a propósito de tão magna questão. Aliás o congresso socialista que devia decorrer no fim do mês em Portimão e as eleições internas a ele associadas - incluindo a eleição do secretário-geral - foram remetidos para data incerta, algures no Verão.
Eis uma curiosa concepção unipessoal da política: Costa decide pelo PS sem consulta prévia ao partido. Como se batesse no peito, proclamando: «Le parti c'est moi.» Singular cruzamento de Luís XIV com Tarzan: os socialistas parecem apreciar.