Lápis L-Azuli
Hoje lemos Michael Ende, "A História Interminável"
Passagem a L' Azular: "Se nunca passaste tardes inteiras com as orelhas a arder e o cabelo despenteado, esquecido do mundo à tua volta por causa de um livro, esquecido do frio e da fome... Se nunca leste escondido debaixo das mantas com uma lanterna, porque o teu pai, a tua mãe ou alguma outra pessoa bem-intencionada apagou a luz com a justificação plausível de que era hora de dormir porque tinhas de acordar muito cedo... Se nunca choraste lágrimas amargas porque uma história maravilhosa chegou ao fim e precisas de te despedir das personagens com quem partilhaste tantas aventuras, que amaste e admiraste, por quem esperaste e temeste, e sem cuja companhia a vida parece vazia e sem sentido... Se tais coisas não fizeram parte da tua própria experiência, provavelmente nunca compreenderás o que Bastian fez a seguir.”
Como o coração batia acelerado sempre que, conscientemente, fazia uma traquinice. Não tinha um Falkor que me carregasse nas asas da fantasia, mas ficar acordada a ler, ouvir um rádio quase mudo, ou andar pela casa às escuras, pé ante pé, para rapinar uma qualquer guloseima proibida, era o cúmulo da aventura, o maior rush de adrenalina que uma pacata miúda de oito anos podia sentir. O meu pai "apanhou-me" apenas uma vez. Depois de um intervalo nas explorações nocturnas, enquanto a tempestade acalmava, tratei de ser mais inventiva e dediquei-me a ler os livros proibidos que se encontravam fechados, na mesinha junto ao sofá. Eram os livros dos pais e não passava pela cabeça de ninguém que os miúdos os fossem ler. Pois sim...
Correu bem, até que uma noite adormeci com um no colo... claro que eu não era o Bastian, mas seguramente que todos compreenderão o que fiz a seguir...