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Delito de Opinião

Lápis L-Azuli

Maria Dulce Fernandes, 16.04.25

Hoje lemos Domingos Amaral, "Enquanto Salazar Dormia"

Passagem a L' Azular: "O Embaixador Campbell costumava dizer que os portugueses são um povo estranho, para quem um permanente estado de frustração é uma espécie de segunda natureza."

O Embaixador Campbell era um homem muito inteligente.

18 comentários

Pedro Oliveira 16.04.2025

Cara Maria Dulce,
Domingos Amaral é filho de dois escritores (um escritor e uma escritora) infelizmente, a escrita, o saber escrever, o saber contar uma história (detesto o anglicismo estória) não se transmite por via genética.
Se a frustração era a segunda natureza do povo português em 1941 qual seria a primeira natureza?
O povo costuma dizer:
"Quem está mal, muda-se"
Talvez seja essa a nossa essência, a nossa primeira natureza, um povo que quando está mal muda-se.
Os nossos antepassados mudaram-se nos Descobrimentos.
Outros mudaram-se com a Emigração.
Outros sentem-se frustrados mas não se mudam, como Domingos Amaral ou para citar as imortais palavras do grande pensador Bruno de Carvalho: "mudam-se da nádega direita para a nádega esquerda" como fez o dr. Amaral, pai do Amaral, Domingos.
Maria Dulce Fernandes 16.04.2025

Mas olhe que o escritor não está errado e também não escreve assim tão mal.
Os portugueses projectam demasiado as suas frustrações, principalmente nos compatriotas que venceram na vida ou nos produtos nacionais que fazem sucesso "lá fora".
Pedro Oliveira 16.04.2025

Detesto generalizações (às vezes caio na armadilha de, também, generalizar).
Não conheço o livro só o extracto que transcreveu.
Para Domingos Amaral (para a personagem que ele criou) o povo português em 1941 é um povo estranho para quem o estado de frustração é uma segunda natureza.
Será assim?
Qual povo português?
O povo português que apoia Salazar e a venda de volfrâmio aos alemães ou o povo português que combate pela liberdade levado nas asas do major Cook e Alvega (sei que é ficção mas serve de ilustração)?
Nunca houve um povo português nem ontem, nem hoje e, provavelmente, não amanhã.
É redutor falar ou escrever em nome do "povo".
É redutor fazê-lo de forma não perceptível se a segunda natureza era ser frustrado a primeira natureza seria estar bem coma vida ser não frustrado?
Quanto ao escrever bem ou mal, não sou muito exigente, não exijo que os escritores partilhem as minhas ideias. Gosto que exprimam de forma entendível o que pensam. Prefiro a clareza demagógica de Saramago ao intricamento confusionista de Lobo Antunes, por exemplo. Prefiro uma leitura clara e límpida a um conjunto de palavras que esmiuçadas não significam nada.
Maria Dulce Fernandes 16.04.2025

Se formos ver bem as coisas, o "povo" mudou muito pouco desde os anos 40 do século passado. Também eu era leitora assídua do Major Alvega, que simbolizava a coragem e a liberdade.
Se parar para pensar e ler o que escreveu, o Pedro chegará à conclusão que as suas palavras denotam uma enorme irritação que vem corroborar a tal frustração que eu acima referi.
Pedro Oliveira 16.04.2025

Pois.
Provavelmente sou eu que estou confuso e é o sr. Diogo Amaral que tem razão ao afirmar que o povo português (o de 1941) é estranho embora viva feliz, apaziguado com a sua primeira natureza, uma natureza bela, fantástica e idílica. Curiosamente esse povo estranho (mas feliz) tinha dentro dele próprio uma segunda natureza, "um permanente estado de frustração".
Não consigo explicar isto melhor mas estamos de acordo com a minha irritação não consigo, obviamente, mas com a vacuidade analítica projectada no passado do "escritor".
Prometo que não a incomodarem mais com este assunto, Dulce. Aborrece-me que pessoas sem a mínima formação no assunto escrevam sobre História, podiam escrever sobre física quântica, por exemplo.
Maria Dulce Fernandes 16.04.2025

Pedro, uma pessoa pertinente e bem educada, pode "incomodar" sempre que quiser. Tenho muito gosto nisso.
A física quântica não se aprende na Wikipédia.
ZEBRA 16.04.2025

"Qual povo português?" - comungo a antipatia do Pedro Oliveira por generalizações, particularmente pelas relativas a países e povos. Já me aconteceu exprimi-lo por aqui, sobretudo comentando essa "característica", mais nacional do que o fado, que seria a inveja.

Mesmo os que temos a sorte de conhecer um pouco do mundo e seus habitantes (pessoalmente ou via História, ou via filmes, ou todas), simpatizamos mais com uns do que outros, e isso é humano e vale algumas excelentes anedotas, e então?
Agora, generalizar a antipatia a toda uma nacionalidade é, de certeza absoluta, cometer uma imperdoável injustiça para com muitas pessoas, presentes e passadas, que decerto nos merecem melhor consideração. Há bom e mau em todas as geografias.

E o mesmo sobre os portugueses, a que acrescentaria apenas uma reflexão que às vezes me ocorre: somos mesmo capazes de ser é um povo campeão em auto-depreciação... Não generalizando, claro! Eu, por exemplo, gosto muito de ser portuguesa - e até pelo que conheço de outros povos.
Maria Dulce Fernandes 16.04.2025

Nunca disse que éramos um povo antipático, Zebra. Realcei apenas que o "estado de frustração" nos é(ra) intrínseco, "principalmente nos compatriotas que venceram na vida ou nos produtos nacionais que fazem sucesso "lá fora". É a mais pura verdade. Salvo raras excepções, claro.
ZEBRA 16.04.2025

Por falar em fazer sucesso lá fora, e estados de frustração, sabe a prezada Maria Dulce onde encontrei, e abundantes, exemplares do nacional-invejoso? Pois exactamente entre os nossos admiráveis emigrantes, quando se apercebiam da nossa qualidade de turistas... E até lhe avanço, a título de exemplo, três locais onde me senti particularmente mal acolhida pelos nossos compatriotas: a "nossa" Olivença, Andorra e a Suíça, que se não são nossas não é à falta de se tropeçar em portugueses em tudo o que é comércio. E o Algarve, evidentemente, que ainda é mesmo nosso, eheheh.

Portanto, aqui fica o meu modesto contributo sobre o "estado de frustração", que é tanto que até exportamos... Mas não quero cair, lá está, em generalizações: houve casos definitivamente antipáticos, mas também houve casos simpáticos, e destes em muito maior quantidade.
Tudo isto só para deixar claro que percebo perfeitamente onde a prezada Maria Dulce pretende chegar, e que também reconheço os "sintomas"...
Maria Dulce Fernandes 16.04.2025

No verão, quando vêm de férias e trazem amigos indígenas dos países de acolhimento, a prata da casa fica completamente oxidada. Isso eu sei. Mas aconteceu "lá fora" dar com portugueses, e foi sempre uma festa.
ZEBRA 16.04.2025

Merecida sorte da prezada Maria Dulce, seriam talvez portugueses também turistas e não "servidores do turista"...? Mas, como disse, também eu tive mais encontros festivos do que o contrário.

E então quando vêm vários ao mesmo tempo para o mesmo lugar, cada um com a sua "voiture" topo, os seu filhos bem arreados de marcas, e grandes telemóveis grandes, e o resto da panóplia que comprova o sucesso do homem - que nem sempre condiz com o homem de sucesso, evidentemente, mas who cares? Panóplia de que fazem parte as mais gordas esmolas quando passa o cesto na missa e o mais gordo "presente" para a fábrica do "baile de Verão"...

E é vê-los a compararem-se uns com os outros, e tantas vezes os "oxidados" a gozarem o pratinho...
Maria Dulce Fernandes 16.04.2025
Maria Dulce Fernandes 16.04.2025

Medem-se de alto a baixo, sim...
lucklucky 18.04.2025

"O povo português que apoia Salazar e a venda de volfrâmio aos alemães"

Vê-se que foi formatado pela pior profissão.
Esse povo também apoiou a venda de patrulhas aos Ingleses em 1941?
Isto já não aparece nos Expressos: https://en.wikipedia.org/wiki/Portuguese-class_trawler

Note que isto nem aparece na wiki em lingua portuguesa, uma boa demonstração da censura do jornalismo e ensino tuga do 25 de Abril.
Pedro Oliveira 18.04.2025

Caro luck,
Se tiver o trabalho de ler o que escrevi com atenção, verificará que o meu ponto era esse. O "povo" de Domingos Amaral nunca existiu.
lucklucky 18.04.2025

Obrigado pelo esclarecimento.

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