Lápis L-Azuli
Hoje lemos: Rabelais, "Gargântua & Pantagruel".
Passagem a L-Azular: “Cabe-te a ti desenvolver um talento sagaz para farejar, cheirar e apreciar estes belos e gordurosos livros, ser rápido: na perseguição e ousado no ataque, e depois, através de uma leitura cuidadosa e meditação frequente, abrir o osso e procurar a medula substancial – isto é, o que quero dizer com tais símbolos pitagóricos – tens de ser seguro na esperança de que te tornarás espirituoso e sábio com esta leitura, pois descobrirás nela um sabor muito diferente e uma instrução mais oculta que te revelará as verdades obductas mais elevadas e os mistérios mais impressionantes."
Gosto de pensar que a leitura me tornou mais espirituosa e mais sábia também.
Falámos em Rabelais na disciplina de Francês, no liceu, fiquei curiosa e trouxe os livros da biblioteca. Gostei imenso de os ler. Bem mais tarde, mais curiosa do que entendida nas artes culinárias, comprei as bíblias da gastronomia internacional e aprendi muito e muito bem a fazer certos pratos. O rigor da receita era a regra primeira mas eu, sempre com ideias inovadoras, ia adaptando. Umas vezes era bem sucedida e outras não. Na cozinha, como em tudo o mais na vida e sem ser necessário recorrer ao ao oráculo da dive Bouteille.
Os livros de Rabelais narram a vida e aventuras do gigante Gargântua e de seu filho Pantagruel, satirizando os costumes da França do século XVI. Na época da sua publicação, os livros chegaram a ser condenados como obscenos o que, naturalmente, aumentou ainda mais sua fama e consequente procura.
Fixei-me na ideia de quão importante seria poder abrir o osso e procurar a medula substancial. É nas tragédias como as que têm assolado o país e as pessoas que nos perguntamos se a medula substancial ainda existe. Se é de existência comprovada é também, e muito seguramente, de comprovada degradação.