Lápis L-Azuli
Hoje lemos Elif Shafak: "A Cidade nos Confins do Céu".
Passagem a L-Azular: "Sentado no pescoço de Chota, Jahan conseguia ver para baixo e para trás, surpreendido por se encontrar a olhar para um mar de corpos cujo fim não se distinguia. Viu os camelos que transportavam as provisões e os bois que puxavam canhões e catapultas; os albardeiros das tranças, com o cabelo a sair-lhes dos bonés; os dervixes entoando invocações; o agá dos janízaros orgulhosamente sentado em cima do seu cavalo; o sultão montando um puro-sangue árabe, rodeado por guardas os arqueiros canhotos à sua esquerda, os de destros à sua direita. À sua frente cavalgava um porta-estandarte, carregando a sua bandeira com as sete caudas de cavalo negras. Milhares de mortais avançavam erguendo estandartes e caudas de cavalo em estacas; levantando piques, cimitarras, machetes, arcabuzes, machados, lanças, escudos, arcos e flechas. Jahan nunca vira tantos homens juntos. O exército era menos uma horda de homens do que um gigante maciço. A batida em uníssono de pés e cascos era, simultaneamente, arrepiante e entorpecedora. Subiam as colinas contra o vento, rasgando a paisagem como uma faca a cortar carne."
É a guerra. É a adrenalina na pole position, é o anseio pelo cheiro a sangue, é o corpo a vibrar de expectativa e o peito a resfolgar de excitação em homens e em bestas, em todos eles ténue é a diferença e nenhuma a distinção. Era "arrepiante e entorpecedora", mas era o caminho. Não conheciam outro modo de vida. Era matar ou morrer.
Pelo menos olhavam-se nos olhos e sabiam que iam morrer ou matar. Ali. Mesmo os poderosos tinham uma coragem diferente daquela que nasce nas mãos que manobram joysticks e da que espevita a dormência na ponta dos dedos que carregam nos botões.
Mudando de assunto, qualquer livro no qual um dos heróis é o elefante branco, é de louvar e merece a pena ler.