Lápis L-Azuli
Hoje lemos: Ernest Hemingway, " O Velho e o Mar"
Passagem a L-Azular: "Recordou-se da vez em que apanhara um espadarte, de um casal de espadartes. O macho deixava sempre a fêmea alimentar-se primeiro, e a fêmea, apanhada no anzol, lutou feroz e desesperadamente, tomada de pânico, e depressa ficara exausta; e durante todo esse tempo o macho estivera junto a ela, cruzando a linha e dando voltas à superfície. Andara por tão perto, que o velho temera que ele cortasse a linha, com a cauda afiada como uma foice e quase do mesmo tamanho e forma. Quando o velho a agarrara com o croque e lhe dera uma marretada, segurando o estoque e batendo-lhe no alto da cabeça até que a cor do peixe se tornara quase igual ao estanho dos espelhos, e depois, com o auxílio do rapaz, a içara para bordo, o macho ficara ao lado do barco. E então, enquanto o velho desenredava as linhas e preparava o arpão, o macho saltara muito alto fora de água, ao pé do barco, para ver onde estava a fêmea, e mergulhara profundamente, com as suas asas cor de alfazema, que eram as barbatanas peitorais desfraldadas e todas as listras cor de alfazema a brilhar. Era belo, recordava o velho, e tinha ficado.
"Foi a coisa mais triste que já vi em peixes, pensou."
O peixe é um animal. Os animais não têm sentimentos, não amam, não cuidam, não sofrem. Quem sabe nem existem, porque se não sentem, não podem pensar. Um peixe preocupado com a fêmea é coisa de livros, não é? Nem poderia ser de outro modo, senão não tarda nada ainda entra em voga a teoria de que os animais têm alma!
É impensável um peixe comportar-se como um homem que tenta proteger a sua mulher. Ou até melhor do que um homem porque, sabendo-se de antemão derrotado, ficou.
(Imagem Google)