Justiça e jornalismo, viveiros de populistas

Encerra hoje a campanha eleitoral para as autárquicas do próximo domingo. Ignorada em larga medida pela generalidade dos órgãos de informação, que adoptaram a mesma grelha editorial aplicada às eleições para a Assembleia da República. Vigora a lei do menor esforço: as equipas de reportagem seguem a agenda diária dos "líderes", mesmo sabendo que nenhum deles é candidato a lugar algum neste escrutínio. Estão em Vinhais, Alcobaça ou Alhos Vedros integrados na comitiva dos caudilhos partidários como se caminhassem numa rua de Lisboa. Não fazem qualquer pergunta de âmbito local ou regional: só se interessam pela politiquice nacional.
Toda a campanha foi percorrida por temas laterais. Desde a ardilosa travessia mediterrânica da doutora Mortágua até ao famigerado "caso Spinumviva" - enésima intromissão do Ministério Público em campanhas eleitorais, repetindo o sucedido em Março. Na altura o tiro saiu-lhes pela culatra: a AD ampliou o elenco parlamentar e o PS sofreu a mais humilhante derrota da sua história. Faltam 48 horas para sabermos se isto vai repetir-se, desta vez no plano autárquico.
Agora que tanto se fala em populismo, aqui fica o sucinto balanço desta campanha em que foi notória a falta de sintonia entre o país mediático e o país real. Tanto o manifesto desinteresse dos jornalistas pelo Portugal profundo como a crescente politização dos órgãos de investigação criminal apenas contribuem para o aumento das forças populistas que uns e outros dizem desprezar.
André Ventura certamente agradecerá: desta vez nem precisou de protagonizar nenhum psicodrama hospitalar para levar a água ao seu moinho. A desvalorização do carácter local e regional desta campanha beneficia o Chega, menos implantado no terreno do que as forças políticas tradicionais. E a instrumentalização de jornais e televisões pelas habituais fontes anónimas do Ministério Público contaminou fatalmente o debate político, induzindo a noção de que a "roubalheira" é endémica neste país carente de uma falange salvadora contra a "impunidade".
Depois não se queixem.

