Jornalismo "agit-prop"
![1176655-61842b8e-01ad-4cff-b0c1-6109c591bc47[1].jp 1176655-61842b8e-01ad-4cff-b0c1-6109c591bc47[1].jp](https://fotos.web.sapo.io/i/Bd717ffd1/21262054_bhWca.jpeg)
Ontem, como de costume, em quase todos os canais "informativos" portugueses só havia bola. Com "notícias" como esta: «Benfica supera a crise goleando o Feirense.»
Deslizei para os raros recantos onde ainda não chegara o futebol - que entre nós é considerado sinónimo de desporto, vá lá entender-se por quê.
Num desses poisos alternativos, logo na frase de abertura, evocava-se o agora falecido presidente norte-americano George Herbert Walker Bush dizendo logo na frase de abertura que tinha "liderado durante oito anos" o poder em Washington: bastaria uma rápida consulta à Wikipédia para perceber que Bush pai esteve apenas quatro anos na Casa Branca, entre 1989 e 1993.
Mas este "jornalismo" que nos entra em casa não peca apenas pela falta de memória: peca também por excesso de activismo político. Noutro canal, a propósito dos distúrbios em Paris, provocados por extremistas de vários matizes, Fulano aludia à Revolução Francesa, Beltrano invocava o espírito da "revolução de 1848" e Sicrano dava por praticamente consumada a demissão de Emmanuel Macron, por pressão "do povo que se revolta nas ruas". Todos contactados por telefone, todos arengando contra a democracia representativa, todos fazendo tábua rasa da genuína vontade popular expressa no voto. Agit-prop em directo e ao vivo.
Voltei a zapar, de comando na mão. Despedindo-me dos cúmplices morais da anarquia parisiense, regressei ao reino da bola. Mal por mal, antes a crise do Benfica, "superada" pela vitória caseira contra o Feirense.

