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Delito de Opinião

Jonet, uma vez mais

Rui Rocha, 12.09.14

O problema das novas declarações de Isabel Jonet não é o de estarem erradas em si mesmas. É evidente que há quem se aproveite das redes de solidariedade sejam elas públicas ou privadas e que faça disso o seu modo de vida. Só pode negar isto quem tenha o seu sentido crítico e indignação completamente amarrados às imposições do politicamente correcto. As questões são bem outras. Desde logo, impressiona que de entre os vários pontos de análise do problema da pobreza que são possíveis, Jonet escolha sistematicamente aquele que sublinha a existência dos que abusam do(s) sistema(s). São opções. Mas seria eventualmente muito mais útil colocar o dedo na ferida dos que se viram confrontados com situações de carência pela perda do emprego, pela disrupção familiar, pelo endividamento descontrolado. Aqueles que querendo genuinamente ter uma vida diferente, rebentam diariamente contra um muro dificuldades, bloqueios e falta de oportunidades. Por outro lado, a quem tem a responsabilidade de gerir uma instituição como o Banco Alimentar pede-se um altruísmo de olhos fechados. Ajudar sem ver a quem. Sem crítica e sem julgamento. Ainda que as situações concretas não justifiquem essa generosidade, deve prevalecer a generosidade sem pergunta e sem fundamento. Quando contribuo para o Banco Alimentar, espero que o que dou seja entregue a quem diz precisar. Sem inquéritos ou juízos de valor. No limite, ainda que não precise realmente. Nesta matéria, os actos têm que ficar estritamente com quem os pratica. Prefiro ser enganado a ser polícia ou inquisidor. Para além disso, numa análise global, os profissionais da pobreza de que fala Jonet são, seguramente, muito menos nocivos  para a sociedade do que outros profissionais habituados a explorar, de colarinho branco, nos corredores e gabinetes, as debilidades das instituições. Por último, esta estratégia recorrente de Jonet não é sequer muito inteligente. A persistência na ideia da existência de abusos e abusadores levará, em última instância, a que os que dão venham a questionar o seu altruísmo, o que não deixará de afectar as campanhas do próprio Banco Alimentar.

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