Jimmy Carter (1924-2024)
Escrevi sobre ele duas vezes em 2024. Não há duas sem três: faltava esta. Em tom de elegia, ao contrário das anteriores. Para dar nota do falecimento de Jimmy Carter, Presidente dos EUA durante a minha adolescência, triunfador da corrida à Casa Branca de 1976 - a primeira que segui em pormenor do primeiro ao último dia, como se acompanhasse as peripécias de um campeonato de futebol.
James Earl Carter Jr, 39.º inquilino da Casa Branca (na verdade foi o 38.º pois Grover Cleveland ocupou duas vezes o emblemático edifício do n.º 1600 da Avenida Pensilvânia em Washington) entre 1977 e 1981, esteve longe de ser um chefe do Executivo norte-americano bem-sucedido. Apesar de alguns sucessos no campo internacional, como os acordos de Camp David que selaram a paz entre Israel e o Egipto, os tratados do Canal do Panamá que permitiram a restituição a este país da faixa de território que Washington ali administrava desde o início do século e um acordo para a redução de mísseis balísticos assinado com a URSS.
Em Novembro de 1980, este vulto do Partido Democrata era o rosto de um país enfraquecido, que parecia à beira da decadência. Foi derrotado nas urnas pelo republicano Ronald Reagan - que prometia «um novo amanhecer na América».
Mas Carter soube reconstruir a sua imagem. E é hoje considerado, sem favor, um dos melhores antigos presidentes dos EUA, tendo recebido em 2002 o Nobel da Paz. Pelos seus esforços na promoção da democracia, da justiça social, das condições sanitárias e dos direitos humanos um pouco por todo o globo.
O Centro Carter, que fundou em 1982 com a sua mulher, Rosalyn, é uma organização de referência, à escala mundial, para avaliar campanhas e resultados eleitorais. Em Julho, não hesitou em considerar fraudulento o escrutínio presidencial na Venezuela, ganho por Edmundo González, o candidato da oposição - que acabou perseguido, ameaçado e exilado pela ditadura militar de Caracas.
Em Maio mencionei-o no DELITO: figurava na galeria dos escassos sobreviventes actuais entre os militares mobilizados na II Guerra Mundial. Com Mel Brooks, Dick Van Dyke e alguns outros.
A 1 de Outubro assinalei aqui o centésimo aniversário deste homem de perpétuo sorriso. Tornara-se já o chefe do Executivo norte-americano com maior longevidade de sempre, ultrapassando George Bush, falecido aos 94 anos em 2018. Mas permaneceu activo quase até ao fim. E ainda fez questão de votar na eleição presidencial de Novembro, optando naturalmente por Kamala Harris.
«Aliviar o sofrimento» era um dos lemas deste cristão convicto, que se manteve fiel à fé que professava. Quando falhou, nunca foi por défice de idealismo mas talvez por acreditar em excesso na bondade humana. Até nisto dir-se-ia hoje um homem de tempos muito distantes. De tempos que parecem nunca mais voltar.