Jeanne Moreau 'in excelsis'
Há caras que não nos enganam. Ela tinha uma dessas caras. Os olhos magoados, a boca sensual, o lábio inferior ligeiramente descaído, dando-lhe um ar de amuo permanente. Essa face tão expressiva fez a aura desta actriz - uma das maiores estrelas de sempre do cinema francês. Dela emanava uma «sexualidade enigmática e brilhante», na feliz definição de Camille Paglia.
Vimo-la nesse fabuloso noir de Louis Malle que se intitulou Ascenseur pour l'Échafaud (1957), ao som de Miles Davis. Ou, de novo dirigida por Malle, imortalizada em Os Amantes (1958). Ou, no mais insólito dos triângulos amorosos, em Jules e Jim (1962), de Truffaut. Ou na excelente versão do Diário de uma Criada de Quarto, de Buñuel (1964). Ou, ao lado de Brigitte Bardot, em Viva Maria, ainda de Malle (1965). E em tantos outros filmes que lhe fizeram perdurar o inigualável rosto com que todas as câmaras pareciam fazer amor.
Acaba de rumar à eternidade: mesmo sem a sua presença física entre nós, ela é daquelas que sempre povoarão os sonhos cinéfilos, fazendo da arte das imagens em movimento uma singular liturgia dos sentidos.