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Delito de Opinião

Já abriu a época da caça ao voto

Pedro Correia, 29.06.21

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É oficial: abriu a época da caça ao voto. O que não admira: faltam apenas três meses para as eleições autárquicas. A partir de agora vai valer tudo.

Espelho do mundo, espelho da vida, espelho do melhor e do pior da política, a televisão antecipa desde já o que nos espera nestas 12 cruciais semanas que antecedem o escrutínio. Ainda mais cruciais por ocorrerem num momento em que, segundo uma sondagem há dias revelada, o partido do Governo sofre o mais sério abalo nas pesquisas de opinião desde Março de 2020.

Há que contrariar esta tendência, terá pensado o estado-maior socialista. E se assim pensou melhor o fez. Cada pretexto pode gerar notícia. E cada notícia funciona como chamariz ao exercício do voto nos mais diversos concelhos. Não esqueçamos que estas são umas eleições muito especiais: estão em jogo 308 presidências de câmaras municipais e 3091 presidências de juntas de freguesia no continente e nas regiões autónomas. Ninguém tenha ilusões: a soma de todas estas parcelas condicionará o próximo ciclo político a nível nacional.

Neste contexto, está especialmente em foco o ministro da Educação. É pelo menos a segunda vez, em poucos dias, que surge acompanhado de autarcas socialistas para lhes dar alento.

A 7 de Junho, deslocou-se a Vila Nova de Gaia – fazendo-se filmar ao lado do presidente da Câmara local, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, recandidato a um terceiro e último mandato. Visitou ali três escolas que “fazem parte dos 500 estabelecimentos de ensino que estão a remover o amianto” a nível nacional. “Vamos fazer uma reabilitação de eficiência energética”, declarou o autarca, aproveitando aquele tempo de antena nos telediários à boleia de Tiago Brandão Rodrigues. O ministro esteve à altura das circunstâncias: Gaia, sublinhou, é um município “que mostra que é possível fazer a diferença”.

A 19 de Junho, Brandão Rodrigues voltou ao Norte, desta vez para promover o concelho de Paredes de Coura. Elogiando a Escola Profissional do Alto Minho Interior, ali inaugurada em 1993. “O ensino profissional tem sido uma aposta muito forte do nosso país e esta escola tem sido um exemplo”, elogiou o membro do Governo – ao lado do presidente da Câmara local, o socialista Vitor Paulo Pereira, recandidato a um terceiro e último mandato.

Não havia pressa. Portanto, sobrou tempo para o autarca sublinhar que esta escola “está ligada ao mundo do trabalho”, enquanto o ministro mostrava satisfação por Paredes de Coura acolher em breve a fábrica de vacinas da Zendal. É investimento privado, de um grupo farmacêutico espanhol, mas o espectador menos sagaz pode supor que é obra do Governo. Com as televisões a registar. “Vai criar mais de 30 postos de trabalho”, garantia uma delas. Focando o ministro e o presidente da câmara, ambos com ar de orgulho. Dava para perceber, mesmo com máscaras.

Quem não fizesse a menor ideia de que vivemos já em período pré-eleitoral, ficava esclarecido. Em Portugal há coisas que nunca mudam.

 

Texto publicado no semanário Novo

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