Isto está pior do que antes do 25 de Abril
É no sempre (muito) apreciável Antologia do Esquecimento que encontro esta atoarda do consagrado construtor corporal e deputado do PSD Duarte Pacheco: "E afinal eu vejo que temos um poder socialista que é pior do que aquilo que nós tínhamos antes do 25 de Abril". Fraca gente política, a que tem estas saídas, patetices até indignas, demagogia rasca mas também demonstrando um paupérrimo quadro mental, uma incultura.
A tralha de Pacheco - e a irritação do hmbf - fez-me lembrar uma outra minha, do mesmo teor, com as mesmas causas e - de facto - diante do mesmo tipo de gente. Irritação que exorcizei num postal: "Ex-votos", de 23.2.2015. Quando, e por estarem outros partidos no poder, havia um coro de gente (o mesmo tipo de gente, mas com t-shirts mal lavadas de cores diferentes) a clamar que se estava "como antes do 25 de Abril". Republico-o agora. Para lembrar que o pára-brisas nos está cheio desta gente. A ver se não os elegemos para deputados - que fiquem pelos ginásios...
Volta e meia os mais furibundistas do estatismo clamam que nada mudou, que isto está como nos tempos d'antes do 25 de Abril e coisas assim. Dislates que lhes rendem laiques, aplausos e, até, votos.
A semana passada fui pai, pois privei da companhia da Carolina. E cruzei um bocado a cidade, em regime de turista, a mostrar à minha filha a cidade que é sua sem que nela alguma vez tenha vivido. No rossio (D. Pedro IV) a meu pedido ela fotografou isto. Uns altares de ex-votos - uma estrutura metálica muito pirosa (L.O.V.E.) onde se engancham os tais ex-votos, agradecimentos/promessas de amor ou amizade, comprados ali mesmo na banca.
Há décadas os ex-votos eram outros. Também esteticamente pirosos, menos hedonistas (o estilo de laicização a que a "classe média" portuguesa consegue aportar) pois ancorados no catolicismo popular. Há algumas semanas demandei Arcozelo e ali encontrei o culto da Santa Maria Adelaide, o recorrente cadáver incorrupto. Na capela ainda lá estão os ex-votos. Pedindo protecção para os soldados arregimentados para o ultramar e suas guerras, coisas de mães, namoradas e até pais roídos pela angústia.
Entretanto, desprezando estas coisas e quem as vive, os furibundistas, indignistas (e agora sirizistas), continuam a clamar que isto está como nos "tempos". Pois as pessoas (as "massas", o "povo" ou outra aspeável qualquer) são-lhes verdadeiramente indiferentes.