Isto é jornalismo
Faz hoje oito dias, registou-se um momento notável de televisão. Um jornalista travou a verborreia de um político que recusava responder às questões que lhe eram dirigidas. Aconteceu na SIC Notícias e cumprimento por isso Miguel Ribeiro, que conduzia a emissão.
Eram 15.28 dessa terça-feira quando surgiu em antena o deputado socialista Porfírio Silva a propósito da promulgação, pelo Presidente da República, de três diplomas aprovados no Parlamento - apenas com o voto contra do PS - para reforço dos apoios sociais no combate à pandemia. Pretendia a SIC que o parlamentar clarificasse e concretizasse uma crítica ao Chefe do Estado publicada numa rede social.
«Queria tentar perceber as palavras que escreveu no Facebook quando disse que o entendimento do Presidente da República é de uma violação extensiva da Constituição. Porque é que utilizou esta expressão?», questionou o jornalista, no exercício do seu principal dever deontológico, que é o de fazer perguntas. Para assegurar o direito dos cidadãos à informação.
Silva começou por dizer: «Eu respondo já à sua pergunta e não lhe vou fugir.» Mas fugiu mesmo, mandando a promessa às malvas. E desatou a debitar a cartilha do PS, utilizando aquele tempo de antena para mera promoção do Governo e do partido.
Às 15.32, Miguel Ribeiro insistiu: «Porque é que acha que o Presidente da República tem uma interpretação abusiva da Constituição?» O parlamentar continuou a fugir à pergunta e a refugiar-se na catequese partidária.
Até que o jornalista perdeu a paciência perante tanto desrespeito à sua função em antena - que é a de obter respostas, não propaganda. «Vai andando à volta e não responde», concluiu, cortando a palavra ao sonso que afrontara Marcelo na rede social mas se furtava à polémica em televisão.
Eram 15.39: tinham passado onze minutos. Voltava a imperar o jornalismo, a cartilha era devolvida ao Largo do Rato. Lá é que está bem.