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Delito de Opinião

Israel

José Meireles Graça, 16.10.23

Há seis posições principais sobre a guerra Israel-Hamas.

Uma é a dos países muçulmanos: o Estado de Israel é uma verruga na face do Islamismo porque a sua criação implicou a deslocação de Palestinianos, que ganharam o estatuto de refugiados (que passou para os descendentes – já quase não há vivos nascidos antes de 1948, sendo que hoje são cinco vezes mais numerosos do que inicialmente) e o nascimento de um enclave de infiéis no mar de países árabes – que são, em área e população, respectivamente, mais de 500 e mais de 40 vezes a israelita. O grau de hostilidade não é o mesmo para todos, e alguns estão longe de exaltados na sua rejeição, mas se a estes números acrescentarmos os do Irão, que não é Árabe e é o mais consistente no ódio ao Judeu, a desproporção é ainda maior.

Outra é a do Ocidente: Os Judeus pagaram, por o serem, um preço demasiado alto na II Guerra Mundial e os poderes vitoriosos de então acabaram, ao cabo de uma tortuosa história, por reconhecer a independência declarada em 1948, com os Estados Unidos e a URSS à cabeça. A URSS não fazia parte, como hoje a Rússia não faz, do que se denomina o Ocidente, e a sua posição foi evoluindo, no contexto da Guerra Fria, para o decaimento do apoio – já lá vamos. Israel é um Estado de Direito e uma democracia, tudo o que não são os Estados inimigos, e conta com o apoio, com frequência envergonhado, das outras democracias, salvo o dos EUA, que é e sempre foi franco e solidário.

Outra é a da Rússia e da China, que vão dizendo coisas piedosas sobre a barbaridade do conflito enquanto fazem contas sobre os ganhos e perdas potenciais da situação.

O resto do mundo não conta. Ignoro o que acham a Indonésia e o Vanuatu, mas por certo acharão qualquer coisa.

Quanto às pessoas, naqueles sítios onde se pode exprimir livremente, há a direita, a esquerda e, onde se encontrarem comunidades muçulmanas com expressão, a rua e as mesquitas.

A esquerda de hoje tem reflexos condicionados: o fraco tem sempre razão contra o forte, o pobre contra o rico, o trabalhador contra o patrão, a mulher contra o homem, o imigrante contra o natural, os LGBT contra os straight, o preto contra o branco, etc. Foi para estas dicotomias que evoluiu o marxismo que, derrotado, ficou fora de moda. Sucede que Israel é forte, comparativamente rico, e absurdamente bem-sucedido numa parte do mundo sem petróleo, que entregue apenas aos palestinianos seria fatalmente pobreta e retrógrada. Acresce que tem o patrocínio quase incondicional da meca do capitalismo “sem freios”, e portanto a aversão automática da esquerda. A qual, se for moderada, reconhece a agressão do Hamas mas coloca tais obstáculos humanitários à reacção israelita que esta só pode perseguir os militantes do Hamas devidamente fardados e isolados nos quartéis que não existem, por estarem os terroristas convenientemente dissolvidos na população. Donde esta parte do espectro político encontra razões na génese do Estado Judeu, e na longa lista de medidas de defesa que implicaram e implicam sofrimento para palestinianos, para recomendar que Israel mude de orientação para o efeito de, com grande humanidade, se suicidar.

A direita procura desesperadamente uma saída para o imbróglio, que permita pôr fim a uma guerra que pode derrapar envolvendo o Irão e outras peças do dominó geoestratégico, que vem somar-se à da Ucrânia, e que conduza, sem que Israel perca a face, a pôr cobro aos perigos da escalada do preço do petróleo e outras disrupções que façam com que as nossas tranquilas sociedades sejam abanadas no seu relativo conforto. E, nisto como noutras matérias, não falta quem ame tanto os exercícios de equilibrismo que perde de vista o essencial.

As comunidades islâmicas no Ocidente manifestam-se aos gritos – os seus campeões não são os que detêm os mesmos valores das sociedades que os acolhem. E talvez este berreiro faça perceber que os imigrantes, necessários aliás para o funcionamento das nossas economias sem jovens em número suficiente, não são todos iguais nem todos susceptíveis de integração.

E então, qual a solução definitiva? Haveria duas, se estivéssemos nos tempos expeditos do Império Romano ou do III Reich, por exemplo: uma era o genocídio do povo palestiniano; e outra afogar todos os Judeus no mar, como declaram desejar inúmeros líderes religiosos muçulmanos, o qual mar está convenientemente situado mesmo ao lado.

Nenhuma das duas é desejável ou exequível. E, em que pese às quintas-colunas que enxundiam as hostes do comentariado, os Israelitas, em se defendendo, defendem-nos a nós e aos nossos valores. Uma vitória, mesmo que parcial, de um grupo terrorista que nega a igualdade dos cidadãos perante a lei (salvo a divina, na versão revelada ao Profeta), a igualdade entre os sexos, a democracia, e a litania de direitos e modos livres de viver a que o Ocidente chegou ao cabo de uma longa evolução que o Islão deixou de acompanhar há séculos, não faria mais do que alimentar o monstro fundamentalista.

De modo que pode e deve haver critério nas escolhas dos meios, mas aquele não pode ser o da equivalência, como reclamam alguns ingénuos, e outros nem tanto, entre nós. O mais, para quem for crente, pertence a Deus; e, para quem não for, basta a serena convicção de que “aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança”.

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