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Delito de Opinião

Interstellar

José Gomes André, 10.11.14

Dizia Kant que todos os organismos estão destinados a desenvolver as suas disposições originais até à sua máxima potencialidade. No caso do homem, esse desenvolvimento ocorrerá, contudo, apenas na figura do género humano, e não no indivíduo humano. Pela nossa insuperável finitude, não é possível nem realizar em cada homem a potencialidade da humanidade, nem tão-pouco vislumbrar a totalidade desse progresso. Somos apenas uma ínfima parte do todo em movimento, uma peça de um puzzle de milhões de peças. Não o podemos apreciar, nem compreender, mas na nossa ausência o puzzle ficaria incompleto. A história do homem é o processo gradual de construção desse puzzle, repleto de avanços e recuos, de falhas, de tragédias e de miséria, mas sempre em realização, sempre em busca de uma completude por vir.

Cada homem sente-se perdido na sua pequenez, na sua insignificância, incapaz de vislumbrar o processo, inábil para justificar a sua própria razão de ser. E no entanto, ele é indispensável ao todo. Cada sacrifício, cada decisão, cada acto conta. Cada ser humano é imprescindível ao cumprimento do género humano. Pois não é no indivíduo que a humanidade se realiza, mas é através dele que ela genuinamente se cumpre. 

No final da “Guerra dos Mundos”, ouvíamos Morgan Freeman dizer “nenhuma morte foi em vão”. "Interstellar" completa essa frase, dizendo-nos “nenhuma vida é em vão”. Tudo o que fazemos importa. Todos os homens importam. "Interstellar" é um grito de fé na humanidade, um grito em defesa da dignidade humana. Que ecoe bem alto – é o meu desejo.

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