Insultar Marega vale 714 euros
Lembram-se da comoção nacional gerada pelo chamado caso Marega, quando este jogador do FC Porto, logo após ter marcado um golo ao Vitória de Guimarães, sua antiga equipa, abandonou o estádio D. Afonso Henriques em protesto contra insultos racistas que lhe dirigiram das bancadas? O país reagiu quase em uníssono: o Presidente da República apressou-se a mostrar indignação; o primeiro-ministro não quis ficar atrás; a coordenadora do Bloco de Esquerda proclamou-se «adepta de Marega» mesmo sem ir em futebóis; o Observador noticiou o sucedido num título com 20 palavras, inovando na técnica jornalística.
Não faltou até quem bradasse «Somos todos Marega», com aquela habitual ponta de exagero que há cinco anos levou muitos a gritar «Somos todos Charlie» - incluindo aqueles que hoje se mostram prontos a aplaudir restrições ao direito à crítica e à liberdade de expressão, desde que ocorram num campo político ou ideológico adverso ao seu. E logo despontaram historiadores e sociólogos de pacotilha a sustentar que «somos um país de racistas».
Moussa Marega decidiu abandonar o campo a 16 de Fevereiro - faz hoje 24 dias. Como sucede nestes surtos de indignação, pontuados pelo frenesim das redes sociais, foi tudo muito intenso e ficou logo esquecido. Parece ter ocorrido há uma eternidade.
Ninguém quis sequer saber como é que aquele coro de grunhidos racistas acabou punido pela chamada "justiça desportiva" deste doce país. Mas eu anotei: a Secção Profissional do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, numa deliberação de 3 de Março, decidiu multar o Vitória Sport Clube (de Guimarães) em 714 euros - repito, por extenso: setecentos e catorze euros - pelo comportamento de parte dos seus adeptos naquele jogo, tendo até o cuidado de esclarecer que este irrisório montante em nenhum momento se relacionou com insultos racistas.
Siga para bingo. A indignação do momento agora é outra, seja qual for.