Instantes em sépia com capa de muitas cores (21)
Maluquices
Todos temos a nossa dose de loucura, com a qual passamos a vida toda a tentar rastrear, conhecer, manobrar, enfim encontrar habilidosamente o melhor modo de com ela conviver.
O que é que nos faz diferentes e ao mesmo tempo tão iguais não é o conhecimento, nem a aptidão, nem a agilidade, mas sim a capacidade de controlar o animal que somos, de domesticar a selvajaria que nos assola, de reprimir a raiva que nos sufoca. O ténue verniz da civilização que nos reveste estala ao mais pequeno toque e a bestialidade que vive sob o polimento solta-se e vocifera e mata e esfola e grita e espuma e arranha…
É a loucura total.
O que é que nos faz rir incontrolavelmente de coisa nenhuma, o que é que nos faz chorar convulsivamente por rigorosamente nada, o que é que nos faz gritar desvarios a plenos pulmões sem qualquer razão?
Na era da tecnologia, onde tudo está ao alcance dum clique, ainda não há como medir a loucura e o clique é por vezes o bastante para virar tudo de pernas para o ar.
Se eu hoje aventar uma opinião considerada polémica, sou rotulada de louca. Amanhã, noutra latitude, a mesma opinião, com toda a controvérsia inerente, pode ser considerada uma tirada genial.
O louco mais louco, debaixo da sua capa de sanidade, é provavelmente menos suspeito de ser louco do que os reconhecidamente loucos, que não tentam sequer esconder a sua loucura .
Costuma dizer-se que a genialidade e a loucura andam de mão dadas, numa roda talmente acelerada em que o olho incauto não capta a noção de quem é quem ou o quê.
O EAN/UPC de um cérebro em série ainda não traz um dígito de verificação funcional.
Pessoas há para quem escrever é catártico e um modo de expurgarem os delírios e se resolverem em paz com a própria loucura.
"A ciência não averiguou ainda se a loucura é ou não a mais sublime das inteligências." – Edgar Allan Poe
(Imagem retirada da internet)