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Delito de Opinião

Inícios

jpt, 16.11.22

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Muito se fala dos grandes inícios das grandes obras de ficção. Nesse rol é quase obrigatório convocar o do clássico "Moby Dick" (Call me Ishmael. Some years ago—never mind how long precisely—having little or no money in my purse, and nothing particular to interest me on shore, I thought I would sail about a little and see the watery part of the world. It is a way I have of driving off the spleen and regulating the circulation.) e nisso vir até ao do já quase clássico "... Morte Anunciada": "El día que lo iban a matar, Santiago Nasar se levantó a las 5.30 de la mañana para esperar el buque en que llegaba el obispo"... Ou então um, de "Meridiano de Sangue", que bate à porta deste panteão: "See the child. He is pale and thin, he wears a thin and ragged linen shirt. He stokes the scullery fire. Outside lie dark turned fields with rags of snow and darker woods beyond that harbor yet a few last wolves. His folk are known for hewers of wood and drawers of water but in truth his father has been a schoolmaster. He lies in drink, he quotes from poets whose names are now lost. The boy crouches by the fire and watches him."

Mas talvez estas opções nos venham de um "cronocentrismo", uma atenção demasiada pelo que nos é "actual", no qual reconhecemos uma intimidade. E, claro, de uma simpatia pelas "histórias" que os ficcionistas inventam para nos encantar e, às vezes, iluminar.  Pois, se é para se falar de "princípios", de entradas, que mais impressionante haverá do que esta abertura de Séneca?:

"Procede deste modo, caro Lucílio: reclama o direito de dispores de ti, concentra e aproveita todo o tempo que até agora te era roubado, te era subtraído, que te fugia das mãos. Convence-te de que as coisas são tal como as descrevo: uma parte do tempo é-nos tomada, outra parte vai-se sem darmos por isso, outra deixamo-la escapar. Mas o pior de tudo é o tempo desperdiçado por negligência. Se bem reparares, durante grande parte da vida agimos mal, durante a maior parte não agimos nada, durante toda a vida agimos inutilmente."

(Séneca, Cartas a Lucílio. Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, p. 1. Tradução J. A. Segurado e Campos)

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