Indignações
Rober Bodegas
O humorista galego Rober Bodegas fez uma série de piadas sobre ciganos num programa de televisão e colocou o vídeo no Twitter. A indignação voraz ateou a pira moral. Acusaram-no de discurso de ódio. Foi insultado por todos os “colectivos” possíveis e imaginários. Foi até comparado a Le Pen e a Salvini. Depois vieram as ameaças de morte. Em violenta ebulição nas redes sociais, o caso chegou às primeiras páginas dos jornais. Bodegas pediu desculpa e apagou o vídeo da rede social. Vozes como a de Dani Acosta, humorista de etnia cigana, que alertavam para o óbvio – uma piada é uma piada –, foram olimpicamente ignoradas.
No El Pais, o escritor Andrés Barba traçou o mapa deste tipo de casos: 1) Comediante faz uma piada sobre um grupo étnico, colectivo, comunidade autónoma ou figura política; 2) Coletivo, grupo étnico ... descontextualiza o comentário e ataca em massa contra o comediante com uma violência que excede em muito a piada que o provocou e que acaba por dar à piada uma difusão que nunca teria tido de outro modo; 3) Um certo grupo de intelectuais argumenta que, embora seja verdade que a piada é de um extraordinário mau gosto, não é menos verdade que a liberdade de expressão é garantia de direitos democráticos e um dos pilares da civilização ocidental; 4) Oprimido por ameaças de morte ou pelas consequências da piada no plano laboral, o comediante dramatiza um pedido de desculpas que não sente, faz um comunicado de imprensa e reza a todos os santos para que o caso caia no esquecimento o mais rapidamente possível.
O melhor resumo de esta e de outras indignações a propósito de textos de humor surgiu na rede que mais zurziu Bodegas, o Twitter: “não façam piadas, por favor. As piadas ofendem. Uma piada matou o meu cão e toda a minha família. Ainda recordo quando uma piada entrou pela minha janela e os matou a todos. É preciso ter cuidado com as piadas”.